Coimbra

Casa da Escrita ou Casa da Cidadania da Língua? “Me engana que eu gosto!”

Notícias de Coimbra | 1 ano atrás em 20-06-2023

No domingo, Notícias de Coimbra revelou que a Associação Portugal Brasil 200 anos (APBRA) tinha comunicado que que ia promover “umas conversinhas” na Casa da Cidadania da Língua, na Rua João Jacinto, 8, o local onde funciona a Casa da Escrita. Adiantava que a  inauguração deste imóvel está marcada para outubro de 2023. Na segunda feira, a oposição questionou o negócio e a situação preferiu não ser clara.

Na última semana, questionado por Notícias de Coimbra, o Município de Coimbra confirmou que “a Associação Portugal-Brasil 200 anos (APBRA) vai realizar na Casa da Escrita, entre os dias 23 de junho e 2 de julho, o primeiro Ciclo Cidadania da Língua” e remete para a informação constante no site da Associação que tem como moradas um apartamento em São Paulo e o escritório de uma empresa em Lisboa.

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A autarquia afiançava que “a iniciativa é o primeiro passo para a inauguração da Casa da Cidadania da Língua, que ocorrerá em Coimbra em outubro de 2023. Com debates, palestras e performances, o Ciclo Cidadania da Língua serve como uma introdução a um projeto ambicioso e vai promover a reflexão em um momento em que a língua portuguesa ganha cada vez mais espaço internacional.”

No entanto, “sobre o futuro da Casa da Escrita”, a autarquia não revelou pormenores e optou por convidar  “o “Notícias de Coimbra” para marcar presença no Debate “Coimbra n(o) centro da Língua | Ciclo Cidadania da Língua”, no dia 1 de julho, pelas 11h00, na Casa da Escrita”. 

O que a Câmara de Coimbra não quer admitir pode ser visto na página da Associação Portugal Brasil 200 anos, que não esperou pela inauguração (em Outubro) para anunciar  que a Casa da Língua Portugal funciona (em junho) na descontinuada Casa da Escrita.  De uma hora para a outra, o programa alterna entre a Casa da Escrita e a Casa da Cidadania da Língua. O Google Maps confirma que é o mesmo local!

Na segunda feira, dia de reunião de Câmara, Regina Bento, líder da oposição questionou o presidente da situação em relação ao futuro da Casa da Escrita. Referindo que a foi surpreendida “por anúncios na comunicação social, dos quais se parece antever o futuro próximo da Casa da Escrita”.

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“Mas, além disso, na nota de imprensa divulgada pela Associação é ainda anunciado que esta iniciativa é o primeiro passo para a inauguração da Casa da Cidadania da Língua, que ocorrerá em Coimbra, em outubro de 2023 e que até já tem curador! acrescentou a socialista”.

A vereadora foi direta ao assunto e fez perguntas muito claras:  Esta Casa da Cidadania da Língua, a inaugurar este ano, é a Casa da Escrita? A nova Casa da Cidadania da Língua implicará ceder a gestão da Casa da Escrita à Associação Portugal Brasil 200 anos, cujo Presidente da Direção é o Dr. José Manuel Diogo e o Presidente da Assembleia Geral é o Professor Doutor João Gabriel Silva, ex- Reitor da Universidade de Coimbra?

Também perguntou como é que a cedência da Casa da Escrita a uma Associação de direito privado com sede em Lisboa é compatível com um equipamento municipal que guarda as memórias e o espólio de João José Cochofel e da sua família, mas também, mais recentemente uma parte da biblioteca particular de Eduardo Lourenço, mais de 3.300 livros que foram generosamente doados ao Município?

Quis ainda saber se  famílias de João José Cochofel e de Eduardo Lourenço foram consultadas sobre estes planos para a Casa da Escrita?

Exigiu “que o Sr. Presidente preste cabais esclarecimentos, pois o património municipal não pode estar a saque e a Casa da Escrita é por si própria e nela contém um valioso património cultural e literário. Foi na Casa da Escrita que, em tempos, com João José Cochofel e os seus livros, se reuniam, entre outros, Fernando Namora, Joaquim Namorado, Arquimedes da Silva Santos, Fernando Lopes Graça, Afonso Duarte e Eduardo Lourenço”.

A Associação Portugal Brasil 200 anos é muito recente, foi criada em novembro de 2021, com um propósito específico, não se compreendendo a sua relação com a Casa da Escrita, estranhou Regina Bento.

A Casa da Escrita é municipal e assim deve manter-se, com honra, orgulho, responsabilidade e com respeito absoluto por quem confiou no Município para guardar essas memórias, conclui a número 1 do PS no executivo municipal.

José Manuel Silva optou por não assumir o que já sabe através do site e da missiva da APBRA e deu respostas evasivas não tendo revelado o que já combinou e foi divulgado pelo seu “guru” José Manuel Diogo.

O prefeito limitou-se  a seguir a narrativa que tinha mandado transmitir a NDC e disse: Pode a senhora vereadora ficar tranquila que a Casa da Escrita continuará a ser municipal, nem podia ser de outra maneira. Convido-a a participar de um debate que vai ocorrer no dia 1 de julho, extremamente interessante, na Casa da Escrita, e o tema é Coimbra está no Centro da Língua. Onde se vai falar de cidadania da língua, será um debate interessante e falar-se-à do futuro.
 
Questionado por NDC, no final do encontro quinzenal dos eleitos locais, o líder do Município de Coimbra, continuou a não assumir o que já é público, tendo dito que “A Casa da Escrita vai ser muito mais do que aquilo que era, tinha uma atividade muito limitada, extremamente redutora e nós queremos dar uma verdadeira dimensão da língua portuguesa à casa da escrita e é nisso que estamos a trabalhar e é certamente isso que irá suceder no futuro”.
 
De seguida admitiu que “Queremos que a Casa da Escrita seja o epicentro da língua portuguesa e da cidadania da língua. A seu tempo veremos o que é que irá acontecer ao rótulo da Casa da Escrita, que é um rótulo redutor para a casa de João José Cochofel. Não foi uma casa de escrita, foi uma casa de cidadania, de revolução, de conspiração, de arte, de cultura”.
 
Sem responder à pergunta se a Casa da Escrita vai mudar o nome, José Manuel Silva preferiu opinar que a “Casa da Escrita não honra o passado da casa  e a história João José Cochofel ou da Casa do Arco”.
 
Questionado se a Casa da Escrita pode ser atribuída à Associação Portugal Brasil 200 anos, José Manuel Silva começou por dizer que “isso vamos ver no futuro”, referindo que “não vai ser atribuída a nenhuma associação, vai ter a colaboração de quem quiser colaborar na dinâmica da Casa da Escrita”.
 
É evidente que quem quiser colaborar na dinâmica da Casa da Escrita terá que ter uma situação protocolada para que isso possa acontecer, mas não há exclusividades. O que nós queremos é uma atividade permanente na Casa de João José Cochofel, onde havia tertúlias conspirativas, onde eram protegidas pessoas da perseguição no tempo do Fascismo. Não era uma casa de escrita”.  
 
 
Não será preciso esperar pelo dia 1 de julho nem pela inauguração  em outro para ver que a Casa da Cidadania da Língua está “montada” nas instalações da “descontinuada” Casa da Escrita.
 
A Associação Portugal Brasil 200 anos foi “inventada”  por José Manuel Diogo, que assume a presidência da Direção. João Gabriel Silva, irmão do “prefeito” José Manuel Silva, é o presidente da Assembleia Geral desta organização “não governamental e sem fins lucrativos”.
 
Recordamos que no dia 21 de abril de 2022, a Universidade de Coimbra acolheu, com muita  pompa e circunstância, a assinatura de um acordo de cooperação técnica entre a Universidade de Coimbra, a Câmara Municipal, o Senado Federal do Brasil e a Associação Portugal Brasil 200 anos, para assinalar os 200 anos da independência do Brasil e que engloba o projeto 200 anos, 200 livros. 

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