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Cáritas entrega centros de saúde erguidos em Moçambique com donativo do Papa
A Cáritas, organização humanitária da igreja católica, entregou hoje às autoridades moçambicanas dois centros de saúde construídos em Cabo Delgado com um donativo do Papa Francisco e que vão beneficiar deslocados da guerra na província.
Apesar de receberem o nome Papa Francisco, “os centros de saúde são para todos”, sem distinção de religiões, tal como o líder da igreja católica pediu, explicou Antonio Juliasse, bispo de Pemba, durante as cerimónias.
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O donativo de 100 mil euros foi anunciado em dezembro de 2020 e um dos centros beneficiou ainda de um doação de cerca de 20 mil euros do Presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, detalhou António Juliasse.
O centro de saúde de Nicuapa, no distrito de Montepuez, deverá dar cobertura a cerca de 45.000 pessoas, metade das quais deslocadas de guerra, que procuraram segurança naquela zona a sul da província que tem estado livre da insurgência armada que afeta a região desde 2017.
O outro centro fica em Morrupa, distrito de Chiúre, também na zona sul de Cabo Delgado, para beneficiar 36.000 pessoas, a maioria deslocadas.
Ambos estão equipados com farmácia e pessoal médico, aptos a realizar consultas pré-natais, partos, rastreios de nutrição, entre outros serviços.
Um dos focos serão as crianças e mães, um dos grupos mais vulneráveis no conflito que já fez cerca de 800.000 deslocados, metade dos quais são jovens – reflexo da pirâmide etária do país em que metade da população tem menos de 20 anos e cada mãe tem, em média, cinco filhos.
Em 2020, quando o donativo do Papa foi atribuído, foi apresentada a proposta de construção dos centros de saúde por serem locais com “muitos deslocados”, a necessitar de “ajuda urgente”, explicou Luiz Fernando Lisboa, na altura bispo de Pemba e que hoje participou nas cerimónias.
Até então, aquelas comunidades precisavam de percorrer vários quilómetros para obter apoio à saúde – por exemplo, os serviços médicos mais próximos dos deslocados de Marrupa estavam a 20 quilómetros.
No total, os dois centros de saúde construídos pela Cáritas custaram 8,6 milhões de meticais (cerca de 126 mil euros) até estarem prontos a funcionar.
Valige Tauabo, governador de Cabo Delgado que recebeu oficialmente as infraestruturas, apelou à “preservação” dos espaços, tendo em conta a importância dos serviços de saúde face à crise humanitária e a origem do donativo.
“Voltarei aqui”, referiu Tauabo, prometendo continuar a acompanhar os serviços.
A província de Cabo Delgado é rica em gás natural, mas aterrorizada desde 2017 por rebeldes armados, sendo alguns ataques reclamados pelo grupo extremista Estado Islâmico.
Há 784 mil deslocados internos devido ao conflito, de acordo com a Organização Internacional das Migrações (OIM), e cerca de 4.000 mortes, segundo o projeto de registo de conflitos ACLED.
Desde julho de 2021, uma ofensiva das tropas governamentais com o apoio do Ruanda a que se juntou depois a Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) permitiu recuperar zonas onde havia presença de rebeldes, mas a fuga destes tem provocado novos ataques noutros distritos usados como passagem ou refúgio temporário.
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