Política
Capitão de Abril critica “ação dos partidos” e pede que encarnem “nobre arte de servir”
O capitão de Abril Vasco Lourenço identificou a “ação dos partidos” como o principal fracasso da democracia, acusando-os de se terem tornado “simples tribos” e apelando a que encarnem a “nobre arte de servir”.
A propósito do dia em que a democracia passa a ter mais um dia do que a ditadura, que se assinala na próxima quinta-feira, a agência Lusa recolheu testemunhos, por escrito, de algumas personalidades políticas.
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Interrogado sobre qual o maior fracasso da democracia portuguesa, o coronel Vasco Lourenço – capitão de Abril, membro da comissão coordenadora do Movimento das Forças Armadas (MFA) e do Conselho da Revolução – identificou a “ação dos partidos políticos, que falharam a sua missão de servirem e de não se servirem”.
No entender do presidente da Associação 25 de Abril, os partidos “transformaram-se em simples tribos, que mais que o bem do país e dos cidadãos, tentam realizar os interesses dos seus militantes (infelizmente, nem isso, pois se dividem internamente em grupo, que se guerreiam uns aos outros)”.
“A Justiça não funciona; a Justiça social é cada vez mais uma miragem, com um aumento inaceitável da percentagem da população na pobreza, ou às suas portas; a corrupção não termina; a educação cívica está pelas ruas da amargura; os radicais avançam e ganham força, com o fantasma do neonazismo a assombrar-nos… sob a indiferença de cerca de 50% dos eleitores, valor atingido pela abstenção”, referiu Vasco Lourenço, em resposta à Lusa.
Questionado sobre os aperfeiçoamentos de que precisa a democracia portuguesa, o capitão de Abril apontou “a transformação dos diversos partidos políticos, essenciais à democracia, em organizações que visem praticar a máxima de que ‘a política é a nobre arte de servir’”.
“O eleito, uma vez escolhido e eleito, não pode separar-se do eleitor. Tem, em cada um e em todos os momentos, de tentar defender os interesses de quem confiou em si e lhe concedeu o estatuto de o representar e defender”, indicou.
Vasco Lourenço considerou que “só assim se terminará com a enorme separação que se verifica entre os dois grupos”, ressalvando, no entanto, que é sempre “preferível uma má democracia, com defeitos, a uma ‘boa’ ditadura”.
No que se refere ao maior êxito da democracia portuguesa, o presidente da Associação 25 de abril identificou a preservação da “liberdade, da paz e da própria democracia, assente numa Constituição da República, aprovada em resultado das primeiras eleições democráticas, as mais livres e participadas já realizadas em Portugal”.
De acordo com o site do parlamento, em 24 de março de 2022 o tempo da democracia ultrapassa a duração da ditadura, que teve precisamente 17.499 dias. A Revolução de 25 de Abril de 1974, que pôs fim ao regime ditatorial, marca o início da contagem do tempo do período democrático, perfazendo nessa data 17.500 dias.
A Assembleia da República criou uma página (https://www.parlamento.pt/Parlamento/Paginas/ditadura-democracia.aspx) que irá assinalar o dia com a divulgação de textos, infografias e vídeos que mostram as principais mudanças que resultaram do fim do regime autoritário e da instituição da democracia.
As comemorações dos 50 anos do 25 de Abril de 1974 começam na quarta-feira com uma sessão solene em que serão condecorados militares da “revolução dos cravos” e na quinta-feira evoca-se a crise académica de 1962.
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