Coimbra
Câmara da Figueira da Foz quer reordenamento da serra da Boa Viagem
A Câmara da Figueira da Foz defendeu hoje que o momento atual, subsequente à tempestade Leslie, é “uma grande oportunidade” para fazer o reordenamento florestal da serra da Boa Viagem, espaço natural cujo núcleo central foi destruído pela intempérie.
“Esta será uma grande oportunidade para fazer o reordenamento da serra. Tal e qual como há 100 anos alguém teve a capacidade e a visão de reprogramar e reorganizar todo este espaço, este é o momento de pensar de forma organizada o que poderemos deixar para as próximas décadas e para as próximas gerações em termos de património natural na Figueira da Foz”, disse Miguel Pereira, vereador com o pelouro florestal.
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Em declarações aos jornalistas à margem de uma visita ao parque florestal, na sequência da destruição provocada pela tempestade Leslie, Miguel Pereira manifestou-se “desolado” pelo “prejuízo grande” ali registado – com cerca de duas centenas de pinheiros, eucaliptos e cedros centenários destruídos – frisando que, além de material, o prejuízo é “sentimental” para a população da Figueira da Foz.
“Este é o espaço onde as pessoas, ao longo dos anos, se habituaram a vir ter o seu sossego, o seu recanto, o seu contacto com a Natureza”, disse o autarca, aludindo à função social, turística e de lazer do parque florestal, plantado pelo regente florestal Manuel Alberto Rei no início do século XX.
O Instituto de Conservação da Natureza e Florestas (ICNF), entidade que tutela a Mata Nacional do Prazo de Santa Marinha, também conhecido como Parque Florestal Manuel Alberto Rei, assumiu hoje que os trabalhos de remoção de centenas de árvores que caíram ou foram destruídas na serra da Boa Viagem pela tempestade Leslie irão durar seis meses, prazo que o vereador considerou inaceitável.
Miguel Pereira revelou que a autarquia tem vindo a ser contactada por pessoas interessadas em ajudar, de forma voluntária, nos trabalhos de desobstrução e limpeza da serra da Boa Viagem, lembrando ainda o trabalho de associações na limpeza de trilhos e promoção de atividades ligadas ao desporto e lazer (caminhadas e BTT) naquele espaço natural.
Ouvido pela Lusa sobre a possibilidade de a população poder contribuir com trabalho voluntário para a limpeza da serra da Boa Viagem, Rui Rosmaninho, responsável do ICNF, agradeceu a disponibilidade, mas recusou-a no momento, argumentando que uma iniciativa do género representaria “risco” para a segurança dos envolvidos.
“Não queremos colocar ninguém em risco apenas porque está empenhado em ajudar a restaurar a serra. Haverá momentos para isso, com certeza, no futuro”, alegou.
Rui Rosmaninho disse ainda que o ICNF tem em preparação um Plano de Gestão Florestal para a serra da Boa Viagem, cuja elaboração deverá estar concluída em 2019, mas que levará em conta a destruição provocada pela tempestade Leslie, garantiu.
“Mesmo que houvesse um Plano de Gestão Florestal, ele teria caído de caduco, porque a situação atual da mata nada tem a ver com a situação anterior ao Leslie”, argumentou.
No núcleo central do parque florestal da serra da Boa Viagem – zonas da capela de Santo Amaro, Vale dos Cedros e Canto dos Eucaliptos – os caminhos de terra batida e a estrada de acesso desapareceram de vista, com árvores arrancadas pela raiz, outras partidas e tombadas, e o alcatrão tapado por copas de pinheiro e eucalipto, ramos, galhos e folhas, que tornam o percurso intransitável e quase impossível de cumprir a pé.
O ICNF, de acordo com Rui Rosmaninho, estima que tenha sido afetada uma área de 50 a 60 hectares no núcleo central do parque florestal e derrubadas ou afetadas cerca de 200 espécies centenárias, entre outras centenas de árvores.
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