Opinião
Cálice da liberdade
É a primeira vez que eu escrevo um texto com a língua na ponta dos dedos. Não estou livre, embora eu quisesse muito sentir como são o cheiro e os cabelos em liberdade. A sensação de viver nos limites das leis, sem o aprisionamento do corpo e da ideia, é comum entre os humanos, mas, como dizia a filósofa francesa, Simone de Beauvoir, “querer ser livre é também, querer livres os outros”.
Sem a liberdade incondicional como oxigênio, todo o homem será escravo de alguém ou de algo, mesmo sem saber que o é. Não estamos livres e esse é o desafio da contemporaneidade, pensar em como alterar o rumo dessa existência enclausurada.
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A cor da pele e alguns privilégios não garantem a minha assertividade diante do que não posso controlar. A propósito, a minha tarefa é convencer-me que a ignorância é seletiva e nociva. O jornalismo ensinou-me o exercício da ponderação, da verificação do facto e de uma isenção, mas perdi algumas virtudes por tentar contrariar a liberdade compulsória que me foi sugerida.
Tentaram “corromper-me” e, às vezes, cedi. Mas a convicção do erro dá-me a garantia de que a liberdade de expressão não deve ser temida mas, sim, uma ponte para grandes ligações entre o conhecimento e a informação. Muitos sabem o que a escrita pode mudar e flexibilizar algumas ideias que parecem incontestáveis.
Quando admitimos conhecer a História e repetimos o que correu menos bem, devíamos atestar a nossa falha, no entanto, responsabilizamos o outro pela ação irracional que nos atingiu. A prepotência e a rigidez do pensamento gastam-nos a vida e o cálice da salvação. O silêncio das pessoas tem um impacto na construção da realidade, mesmo naquelas que se negam a ver o que está a acontecer na casa ao lado. “Se a liberdade significa alguma coisa, será sobretudo o direito de dizer a outras pessoas o que elas não querem ouvir”, George Orwell.
OPINIÃO | ANGEL MACHADO – JORNALISTA
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