Os lobos voltarão a poder ser caçados em Espanha, ao norte do rio Douro, na sequência de uma proposta aprovada hoje no plenário do parlamento espanhol por quatro partidos de direita.
Por iniciativa do Partido Popular (PP, direita e maior força da oposição parlamentar em Espanha), o lobo saiu hoje da Lista de Espécies Silvestres em Regime de Proteção Especial (conhecida como Lespre) no caso de territórios a norte do rio Douro.
Além do PP, votaram a favor Vox (extrema-direita espanhola), Juntos pela Catalunha (independentistas catalães) e Partido Nacionalista Basco (PNV, na sigla em espanhol).
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O lobo-ibérico é uma espécie protegida em toda a Espanha desde setembro de 2021, quando entrou na Lespre e deixou então de ser cinegética ao norte do rio Douro.
No debate de hoje no parlamento espanhol, os quatro partidos argumentaram com ataques de lobos a gado e a pessoas e com a necessidade de, nas palavras da deputada do PP Milagros Marcos, “acabar com o pesadelo de milhares de criadores de gado e famílias humildes que querem continuar a viver nas suas aldeias sem medo”.
“Não é preciso escolher entre o lobo e o gado, há é que garantir o equilíbrio e a convivência”, através da “gestão responsável” das populações de lobos, “como se fazia” até 2022, quando essa gestão foi “proibida por pura ideologia”, afirmou Milagros Marcos.
Para a deputada, “a ideologia” está “diariamente a acabar com o mundo rural”, numa crítica à esquerda.
Segundo os dados que referiu no debate, desde que o lobo entrou na Lespre em Espanha, o “resultado não podia ser mais lamentável”: menos 3,5 milhões de cabeças de gado, mais 71 alcateias de lobos, mais de 15 mil cabeças de gado “assassinadas” por dia e 4,5 milhões de quilos de carne transformadas em resíduos.
“Quem é preciso proteger?”, questionou a deputada.
O PP defendeu, ainda, que com esta medida hoje aprovada, Espanha se adianta a uma diretiva europeia que vai qualificar o lobo como “espécie gestionável” em toda a União.
O Partido Socialista Espanhol (PSOE, que está à frente do Governo do país), através da deputada Patricia Otero, limitou-se hoje a criticar a forma como o PP levou a plenário esta medida, “colando” uma alteração a uma proposta de lei para prevenir o desperdício alimentar e sem permitir um debate alargado.
A desproteção do lobo em Espanha, com a retirada hoje da espécie da Lespre, foi já criticada por várias associações de defesa do ambiente e dos animais, que consideraram a decisão do parlamento um “retrocesso histórico”:
“O Congresso [parlamento] assinou hoje um capítulo negro da história da conservação da natureza em Espanha, desprotegendo o lobo pela porta das traseiras sem qualquer apoio científico”, disse a associação WWF, através do seu secretário-geral, Juan Carlos del Olmo.
Para a WWF, ficou hoje aberta a possibilidade de “matanças indiscriminadas” de lobos em Espanha, por parte dos governos regionais, como acontecia até 2021.
O secretário-geral da WWF lembrou que o governo autónomo da Cantábria, por exemplo, já anunciou que pretende autorizar a caça de 40 lobos sem, no entender da associação, “justificação científica”.
A Comissão Europeia apresentou em 07 de março uma proposta para alterar o estatuto dos lobos de “estritamente protegidos” para apenas “protegidos”, permitindo a cada país do bloco comunitário “flexibilidade adicional” para controlar as populações destes animais.
Em comunicado, o executivo de Ursula von der Leyen anunciou que a alteração foi feita ao abrigo da Convenção de Berna, que começou a ser aplicada a partir de hoje.
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