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Brasil abandonou a prioridade do combate à fome no país
O representante da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO/ONU) no Brasil, Rafael Zavala, afirmou que o país deixou de ter como prioridade o combate à fome.
“Não se priorizou o combate à fome a nível nacional”, frisou Rafael Zavala em entrevista divulgada hoje pela BBC News Brasil.
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Segundo uma sondagem feita no início de junho pelo Datafolha um em cada quatro brasileiros afirmou que a comida disponível em casa não era suficiente para alimentar a família.
Também um levantamento da rede brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional indicou que o número de pessoas a passar fome no Brasil quase dobrou entre 2020 e 2022, passando de 19 milhões para 33,1 milhões em abril.
O responsável da FAO lembrou anda que há 15 anos o país era visto como um caso de sucesso no combate à fome e que esse paradigma se alterou nos últimos anos.
A primeira prioridade alcançada há 15 anos foi delas o “combate à fome em todo o país”, disse.
“A segunda e terceira foram o aumento do salário mínimo e o investimento na geração de empregos”, a quarta, o fortalecimento dos “programas de merenda escolar, cozinhas e restaurantes comunitários” e a quinta a “promoção e inclusão da agricultura familiar nas compras públicas, que implicou em estabilidade para muitas famílias que de outra maneira teriam migrado para os centros urbanos”, recordou.
O Brasil, um dos principais ‘celeiros do mundo’, consegue produzir alimentos mais do que suficientes para a população, contudo o valor dos produtos são demasiado elevados para a generalidade da população, considerou, durante a entrevista à BBC, Rafael Zavala.
“É importante mencionar a invasão da Ucrânia pela Rússia, que gerou uma distorção logística global, aumento de preços e inflação. Neste exato momento, 350 navios cargueiros estão atracados no porto de Odessa cheios de grãos e fertilizantes, insumos estratégicos para produzir alimentos, que iriam para todo mundo, mas não estão chegando”, afirmou.
“A maior parte dos fertilizantes e dos insumos agrícolas utilizados no país vem da Bielorrússia, Ucrânia, Rússia e norte da África É preciso diminuir essa dependência e investir em um movimento regional”, acrescentou.
O Brasil é um dos maiores exportadores do mundo de produtos agrícolas, contudo, depende em mais de 80% de importação de fertilizantes, sendo que cerca de 20% destes provem da Rússia e mais de 10% da Bielorrússia.
Responsáveis do Ministério da agricultura brasileiro disseram à Lusa que o país está a aumentar o seu portfolio de vendedores de fertilizantes para colmatar as sanções impostas à Rússia e à Bielorrússia devido à invasão da Ucrânia.
O objetivo passa por reforçar os mercados tradicionais como o Canadá, Marrocos e Irão, mas também por atacar novas oportunidades como é o caso da Jordânia, Uzbequistão, Cazaquistão e Nigéria, ao mesmo tempo que o país aposta na tecnologia para conseguir produzir mais insumos ‘made in Brasil’.
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