Bienal Anozero quer mais dinheiro para crescer e ter maior alcance
O curador da edição deste ano da Anozero considera que a bienal de arte contemporânea de Coimbra se impôs na cidade e no país, mas precisa de um reforço orçamental para poder crescer e ter um maior alcance.
“Acho que é uma bienal completamente sólida na sua proposta e que se impôs na cidade e no país”, disse à agência Lusa o curador da Anozero, Delfim Sardo, considerando que as pessoas reagiram “muito bem” a uma proposta “que teve sempre a preocupação de ser uma experiência para o espectador”.
A segunda edição da Anozero termina no domingo, quase dois meses após a sua inauguração, tendo tido como núcleo central do evento o Mosteiro de Santa Clara-a-Nova, onde estiveram instaladas obras de artistas como Louise Bourgeois, Jimmie Durham, William Kentridge e Julião Sarmento.
Para Delfim Sardo, a continuação da bienal depende agora “de uma quantidade de fatores que têm de ser muito bem cuidados para que, daqui a dois anos, se possa ter uma proposta mais arrojada e com um maior alcance”.
O curador afirma que “era preciso haver mais folga financeira para o projeto crescer e, sobretudo, uma disponibilidade dos recursos atempada”.
“Tem de crescer do ponto de vista orçamental”, defendeu.
O diretor do Círculo de Artes Plásticas de Coimbra (uma das entidades organizadoras), Carlos Antunes, recorda uma conversa com o arquiteto espanhol Carlos Quintáns que, ao visitar a bienal, “não quis acreditar no orçamento”, de cerca de 350 mil euros.
“Isso só é possível porque é um exercício de contenção radical”, explica Carlos Antunes, referindo que até agora não foi possível montar “uma equipa regular, devidamente remunerada, que garanta as condições de produção de uma bienal, como ela merece e como deve ser”.
Assente num “esforço e entrega muito voluntarista”, a bienal, frisa, “tornou-se numa causa urbana”, mas dificilmente a situação se pode repetir.
“Enquanto não resolver as questões processuais e de produção não posso estar satisfeito. Temos que inventar uma equipa e isso não está bem. Prejudica a bienal”, frisa o diretor do Círculo de Artes Plásticas de Coimbra (CAPC), recordando que já há dois anos dizia que as condições precárias em que a produção do evento se fazia não se poderiam manter.
“Na verdade, estava enganado”, constatou, apesar de salientar que as condições para a segunda edição foram “muito melhores”.
Para a próxima edição, que já começa a ser preparada, ainda não há garantias, para além da manifestação da Câmara de Coimbra e da Universidade de continuarem a apoiar o evento (são também coorganizadores).
“O Estado tem que necessariamente financiar a bienal, mas temos que conquistar também o apoio dos privados”, defendeu, referindo que já há manifestação de interesse de empresas privadas – algumas estrangeiras – em apoiar a bienal.
Segundo Carlos Antunes, este é um projeto que pode transformar Coimbra.
Para o diretor do CAPC, ainda se está longe “do lugar que a bienal pode ocupar no país”, mas acredita que Coimbra apercebeu-se de que “há aqui uma coisa com uma escala e capacidade de concretização que não é usual para a cidade e que pode ajudá-la a ultrapassar-se ou a fortalecer-se”.
Apesar das dúvidas e constrangimentos orçamentais, Carlos Antunes mostra-se confiante de que a Anozero possa crescer e ganhar escala para ombrear com os grandes eventos de arte contemporânea internacionais.
“Pode ter essa escala e pode ter essa ambição”, vincou.
Em janeiro, a organização da Anozero vai anunciar o tema da próxima bienal e o seu curador, “que não é português e que tem uma larga experiência” na área, avançou.
Para o futuro, a organização pretende também continuar a ocupar o Mosteiro de Santa Clara-a-Nova e os seus mais de 12 mil metros quadrados de área expositiva, querendo que este continue a “ser um lugar nuclear das edições” do evento.
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