Coimbra
Bienal Anozero intervém no exterior de Santa Clara-a-Nova para propor um novo jardim
O programa de arquitetura da bienal Anozero interveio este ano no exterior do Mosteiro de Santa Clara-a-Nova, em Coimbra, propondo e imaginando um novo jardim e espaço público para usufruto de todos.
O programa de arquitetura da 5.ª edição da Anozero propõe uma reflexão sobre a relação do Mosteiro de Santa Clara-a-Nova com a cidade de Coimbra, centrado, sobretudo, no espaço exterior, onde, fruto do abandono, foi crescendo um espaço verde com pouca intervenção humana ao longo dos anos, foi hoje referido na conferência de apresentação do programa.
No sábado, será apresentado o programa pelos arquitetos espanhóis Carlos Quintans e Zaida Garcia, que propõem uma reflexão sobre aquele espaço central para a bienal, com exposições, conferências e debates, bem como o resultado de uma oficina que desenhou o projeto de um percurso pela cerca do Mosteiro, que já pode ser desfrutado, chamando a atenção para o espaço verde que existe em todo o exterior do monumento.
“O espaço que olhávamos como um campo abandonado, atrás do Mosteiro, é um espaço tão ou mais importante do que o edifício. O que mostrámos é que, com recursos mínimos, com alunos de arquitetura, descobrimos um jardim para os nossos sonhos, que é extraordinário”, salientou Carlos Antunes, diretor do Círculo de Artes Plásticas de Coimbra (CAPC), entidade coorganizadora da bienal.
Para Carlos Antunes, a criação daquele caminho, desenvolvido numa oficina do programa de arquitetura, permite olhar para todo aquela vegetação como um espaço de lazer e fruição.
O trabalho, feito com o apoio científico do designer de jardins britânico Noel Kingsbury (que dará uma conferência no sábado), permitiu chamar a atenção para um espaço com “uma série de vegetação e condições únicas”, salientou Desirée Pedro, também do CAPC, considerando que a zona exterior do monumento “apenas precisa de cuidado”.
“Estas ações de cuidado dizem que estes espaços não estão degradados, porque os jardins não podem ser vistos com o olhar dos jardins do século XIX ou XX. É um jardim mais rico, porque o paradigma é outro”, vincou, destacando ainda os outros projetos que serão apresentados no programa, que seguem a mesma filosofia de recuperação e reabilitação “com muito poucos recursos”.
Para a arquiteta espanhola Carmen Moreno, que irá apresentar os resultados da oficina, o desenho e criação de um caminho e percurso pelo exterior do Mosteiro permitiu “reconhecer este lugar, este jardim, através de um passeio”, transformando-o num “lugar aberto a todos”.
Questionado pela agência Lusa sobre se o espaço verde ficará aberto à população com a possibilidade de concessão do mosteiro e a sua transformação num hotel, Carlos Antunes realçou que não é possível “entender uma desfragmentação entre edifício e a sua cerca”.
“Este é o nosso grito de alerta, de um crime que se está a cometer e da enorme incapacidade de escuta”, disse, vincando que todo o monumento, com espaço exterior e interior, “deve continuar a ser um espaço de todos”.
Também o arquiteto Carlos Quintans, presente em videoconferência, realçou a importância de o monumento continuar a estar aberto à cidade e à arte contemporânea.
O programa, explicou, pretende também refletir sobre “como se vê a cidade a partir do mosteiro”.
Para isso, haverá um laser que será lançado de uma das torres do Mosteiro, todos as noites, até ao fim da bienal, dividindo-se em dois feixes, que têm como pontos dois espaços que se situam na mesma cota, mas na margem direita, o Criptopórtico e o Jardim Botânico.
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