O bastonário dos Médicos defende a criação de um provedor do doente, uma “figura independente” que ajude a melhorar o acesso aos cuidados de saúde, papel que considera que tem sido desempenhado pela Ordem e pelos profissionais de saúde.
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A propósito dos 80 anos da Ordem dos Médicos, que hoje se assinalam, Miguel Guimarães entende que a Ordem tem funcionado, na prática, como um provedor do doente, além do contributo que tem prestado ao longo de décadas para a qualidade da medicina praticada em Portugal e para a criação do Serviço Nacional de Saúde.
Em declarações à agência Lusa, Miguel Guimarães afirmou que a criação da figura do provedor do doente irá ser analisada pelo Conselho Nacional da Ordem dos Médicos. O bastonário entende que devia ser uma “figura independente”, não necessariamente médico, mas proposta pela Ordem dos Médicos.
“Os verdadeiros provedores dos doentes são os médicos. São os médicos que passam a vida a defender os doentes e raramente os ouvimos a defenderem-se a si próprios. Ainda assim, acho que faz sentido criar a figura do provedor do doente, uma pessoa independente que possa ajudar e servir os doentes, ajudar a ter melhor acesso aos cuidados de saúde. A Entidade Reguladora da Saúde, nessa matéria, tem-se revelado completamente ineficaz e os doentes precisam de mais alguém para os ajudar”, argumentou.
Miguel Guimarães considera que as ordens e os profissionais de saúde têm feito um trabalho de defesa dos doentes, mas considera que a figura de um provedor do doente poderia “retirar o caráter corporativista que por vezes possa ser imputado às ordens profissionais”.
Os 80 anos da Ordem coincidem com a cerimónia do Juramento de Hipócrates que hoje decorre em Lisboa, onde o bastonário dirá aos novos médicos que iniciam a atividade profissional “num ano repleto de efemérides que importa assinalar”:
“São médicos de um ano muito especial. Ano em que a Ordem faz 80 anos, em que os internatos médicos fazem 100 anos, em que a declaração universal dos direitos humanos faz 70 anos, ano em que desaparece o exame “Harrisson” [prova de acesso à especialidade médica] e em que faz também 100 anos o Armistício da Primeira Grande Guerra”.
O bastonário entende que não é preciso recuar 80 anos para perceber a “enorme evolução da medicina”, bastando olhar 10 ou 15 anos atrás.
“Temos um excelente Serviço Nacional de Saúde graças à medicina. O que tem evoluído não é o SNS, o que tem evoluído é a medicina”, considerou, dando como exemplos procedimentos que antes demoravam uma hora e que atualmente são realizados em cinco minutos, bem como as cirurgias que se foram tornando menos invasivas.
Além do papel da Ordem na formação médica e no garante da qualidade da medicina, o bastonário considera que a instituição pode ser comparada a uma “mãe do Serviço Nacional de Saúde”.
Miguel Guimarães lembrou o papel de vários dirigentes da Ordem na “elaboração do relatório da carreira medica, que foi o que deu origem ao SNS”.
“O Dr. Arnaut foi o pai do SNS, assinando a legislação que permitiu a criação do SNS, mas quem o construiu e o fez, na prática, foram os médicos”, declarou à Lusa.