Coimbra
Autarca Rui Soares de Souselas e Botão : das dúvidas públicas aos percalços privados
Dúvidas acerca do desempenho autárquico, com que foi confrontado pelo jornalista, merecem de Rui Soares negações; percalços da sua antiga vida empresarial merecem silêncio.
Acontece que a vida empresarial de Rui Soares coincidiu parcialmente com os seus mandatos como presidente da Junta da União de Freguesias de Souselas e Botão (UFSB) e os percalços são desabonatórios da idoneidade exigível a um autarca.
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Notícias de Coimbra pediu a versão do ex-empresário sobre o desfecho de casos inerentes a negócios por ele protagonizados e em que intervieram duas pessoas (uma delas já falecida).
“Trata-se de assuntos e negócios privados (…) que em nada se relacionam com a autarquia”, respondeu o presidente da Junta da UFSB.
A pessoa que veio a falecer e o então empresário terão acordado que ela iria receber um apartamento (T2) e, em troca, uma sociedade pertencente a Rui Soares tornar-se-ia proprietária de uma parcela de terreno.
A escritura de permuta nunca se realizou, mas fontes conhecedoras do dossiê garantem a NDC que José Fernandes facultou a Rui Soares uma procuração para ele vender o terreno.
O empresário, que terá recebido 200 mil euros, veio a indemnizar os herdeiros de José Fernandes no montante de 50 mil euros. Rui Soares acaba de declinar responder a NDC se deveria ter pagado mais aos herdeiros de José Fernandes.
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Quanto a outro caso, ele foi protagonizado por Rui Soares e por um cidadão belga a residir em Portugal. Trata-se de uma intrincada história, cujo desfecho assente em acordo, homologado pelo Tribunal Cível de Coimbra, consistiu em o ex-empresário ressarcir o queixoso.
Impossibilidade de responder
Por outro lado, a contabilista certificada Elsa Ferreira, tesoureira da UFSB entre 18 de Outubro de 2017 e meados de 2023, diz, em resposta a uma interpelação do jornalista, lamentar “não poder responder” a questões que lhe foram postas.
Ao prestar declarações sobre qualquer assunto relacionado com o mandato “estaria a violar a minha consciência e ética”, alega.
“Desde que renunciei” ao cargo de tesoureira, prossegue Elsa Ferreira, “atendendo a falta de disponibilidade (…), pretendo, pelo momento, manter-me afastada de qualquer actividade política mais activa, permanecendo, por ora, apenas nas minhas funções de membro da Assembleia” da União de Freguesias de Souselas e Botão.
O jornalista questionou ambos os autarcas sobre cruzamento do saldo de gerência de determinado ano com a síntese das reconciliações bancárias. Se Elsa Ferreira remeteu para impossibilidade de responder, o presidente de Junta nega qualquer eventual desconformidade em matéria de contas.
Acresce que, pouco antes da renúncia da anterior tesoureira da UFSB, a empresa Lusaconta entendeu deixar de prestar à autarquia serviços contabilísticos.
Segundo o presidente de Junta, tal assunto “nem sequer foi discutido” pelos órgãos autárquicos na medida em que “a iniciativa da rescisão contratual partiu da empresa”.
Além da alternância por que se pautou o exercício do cargo de tesoureiro(a) – Luís Miguel Monteiro da Silva no primeiro mandato de Rui Soares (2013-17), Elsa Ferreira no segundo, tendo permanecido até meados de 2023, e regresso à função por parte de Luís Miguel –, houve abandonos de autarcas, casos de Sérgio Madeira (secretário da Junta em parte do quadriénio 2013-17) e Henrique Farelo (outrora membro da Assembleia da União de Freguesias).
Imediatamente a seguir à renúncia à função de secretário, Sérgio Madeira foi bastante crítico, através das redes sociais, em relação ao desempenho do presidente de Junta, tendo lamentado alegada incapacidade da autarquia para cumprir promessas feitas durante a campanha eleitoral.
Para alguns antigos autarcas, Rui Soares “deixou de ser o mesmo” a partir da fase de atribuição de pelouros no âmbito da Junta.
À revelia do ‘estado-maior’ da lista independente em que, há 11 anos, Rui Soares foi eleito, o presidente designou para tesoureiro Monteiro da Silva, que tinha encabeçado, em 2013, a candidatura do PS à Assembleia.
Fontes auscultadas por NDC asseguram que o ‘mandato’ de que Soares desfrutava era para fazer de Luís Miguel presidente da Assembleia da UFSB.
Quanto ao futuro, estando o presidente de Junta impedido de se recandidatar devido ao número de mandatos consecutivos, há vaticínios de que se irá perfilar para o cargo o actual presidente da Assembleia, Carlos Traguedo. A composição da Junta é definida pela Assembleia e há quem não descarte a hipótese de Soares vir a ser secretário ou tesoureiro.
Embora permaneça como independente, depois de ter presidido à outrora Assembleia de Souselas em representação do PSD, Rui Soares está alinhado com José Manuel Silva, hoje em dia a presidir à Câmara Municipal de Coimbra, autarca que foi vereador no quadriénio 2017-21.
José Manuel, um irmão dele, João Gabriel (ex-reitor da Universidade de Coimbra), Rui Soares e a vereadora Ana Bastos são membros de uma comissão de acompanhamento inerente a um protocolo outorgado, em 2021, pela Junta da UFSB e pela empresa Cimpor.
Sob o lema “Uma parceria sustentável e com futuro”, a cimenteira e a autarquia têm cooperado a ponto de a empresa haver entregado à Junta 360 mil euros.
A construção de uma passagem pedonal sob a Linha do Norte, com conclusão prevista para 2025, a compra do antigo edifício da CGD em Souselas (por 117 mil euros) para sede da Junta, a aquisição de um autocarro e a melhora de equipamentos são investimentos invocados por Rui Soares.
Por outro lado, o autarca nega ter conduzido uma viatura da Junta para transportar pessoal da empresa Rui Soares – Unipessoal para o concelho de Mira. Porém, José Almeida Mendes, que prestou serviços à referida sociedade na qualidade de engenheiro, garante que isso ocorreu a 13 de Janeiro de 2018.
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