O presidente da Câmara de Coimbra, José Manuel Silva, afirmou hoje estar “estupefacto” com o Ministério Público, que o acusa de peculato e falsificação de documento quando era bastonário da Ordem dos Médicos.
A acusação do Ministério Público incide sobre a suspeita de crimes relacionados com o pagamento de ajudas de custo recebidas por viagens de comboio realizadas quando José Manuel Silva era responsável pela Ordem dos Médicos.
O MP considerou que as ajudas de custo só poderiam ser aplicadas se o na altura bastonário usasse carro, explicou o visado.
“A palavra que eu posso usar melhor é estupefação”, afirmou à agência Lusa José Manuel Silva.
Segundo o autarca, tinha sido acordado um modelo de pagamento das ajudas de custo por parte do Conselho Nacional Executivo (CNE) da Ordem dos Médicos, que previa a possibilidade de pagar os quilómetros a José Manuel Silva nas deslocações entre Coimbra e Lisboa, independentemente de ir de carro ou de comboio.
O na altura bastonário tinha proposto um outro modelo, mas o CNE terá optado por aquele, com a folha mensal de deslocações a ser preenchida por uma secretária da Ordem dos Médicos, disse.
“Eu pergunto-me como é que eu podia falsificar um documento que não era eu que preenchia e que nem era eu que assinava?”, questionou José Manuel Silva, confirmando que todas as viagens eram registadas, não fazendo distinção entre comboio ou carro.
De acordo com o presidente da Câmara de Coimbra, esta prática era do conhecimento de todos – até dava entrevistas no comboio para Lisboa – e que todos consideravam que a prática instituída pelo CNE era legal.
“Tudo o que eu fiz foi público, foi transparente, foi correto e foi sancionado pelos médicos”, salientou.
José Manuel Silva, que tinha sido constituído arguido no âmbito deste processo há quase três anos, questionou também o momento escolhido para a acusação ser lançada, em ano de eleições autárquicas.
“Considero a acusação estranha e considero o ‘timing’ estranho, naturalmente. Já vimos muitas pessoas inocentes a serem queimadas na praça pública por motivos políticos. Eu recuso-me a ser mais um inocente queimado na praça pública”, disse, referindo que irá procurar defender o seu bom nome nos tribunais e considerando a acusação uma “construção” feita sem provas.
José Manuel Silva recordou que na própria campanha para a eleição de bastonário deixou claro que defendia que o cargo deveria ser remunerado, que de outra forma não teria capacidade para exercê-lo e, ao mesmo tempo, sustentar a sua família monoparental, com três filhos menores.
“Sempre fui transparente e este processo da Ordem é um processo de total transparência. Acho que o menos transparente é o Ministério Público”, disse.
Questionado sobre se terá o apoio dos restantes partidos que formaram a coligação com que venceu a Câmara de Coimbra em 2021, José Manuel Silva disse apenas que informou previamente os partidos sobre a acusação e que estes irão pronunciar-se “como entenderem fazê-lo, com total liberdade”.
O presidente da Câmara de Coimbra reiterou que mantém a sua vontade de ser recandidato.
José Manuel Silva encabeçou a coligação Juntos Somos Coimbra, que juntava os partidos PSD, CDS-PP, Nós, Cidadãos! (que integrava os elementos do movimento Somos Coimbra), PPM, Aliança, RiR e Volt.
Para o presidente da concelhia do PSD, João Francisco Campos, “não mudou nada”, mantendo o seu apoio à recandidatura de José Manuel Silva e escusando-se a falar pela concelhia, que deverá ter uma reunião em breve sobre as autárquicas.
“O que estranho é o ‘timing’ da acusação, não apenas deste caso, mas de outros que aparecem no país, como se viu há pouco tempo de pessoas do PS que andaram com o nome na lama para depois não serem acusados de nada”, afirmou à Lusa o dirigente local do PSD.
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