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Ativista lamenta “mentalidade de saque” que impede desenvolvimento em Angola
O ativista angolano Rafael Marques considera que a captura do Estado impediu que Angola desenvolvesse o fator humano após a conquista da paz, lamentando que prevaleça uma “mentalidade de saque”.
Em declarações à Lusa, o jornalista e diretor do site Maka Angola, disse que os últimos 20 anos representam sobretudo a maior oportunidade que os angolanos tiveram, desde a Independência, “de tomar as rédeas do seu próprio destino, construir um Estado em que o fator humano é respeitado, preservado e desenvolvido”.
O que não aconteceu porque, depois da paz, sucedeu-se a captura completa do Estado, situação que se mantém até hoje.
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“Temos há cinco anos um novo Governo que tenta combater a corrupção, mas que mantém as estruturas que levaram à captura do Estado, o que leva a que continue a prevalecer uma mentalidade de saque ao nível dos governantes, das famílias reinantes, que continuam a olhar para o país como uma fonte de riquezas para levarem para o exterior, e não para construírem um cidadão melhor”, criticou o também investigador.
Rafael Marques salientou que, mais do que falar em números, é preciso atuar sobre as mentalidades, para que todos sejam “mais humanos, mais solidários” e haja “alguma noção de Estado e preocupação com o bem-estar comum”.
Por isso, o que Angola conquistou foi uma “paz podre” que não passou do calar das armas: “Não se construiu uma paz social, esta só pode ser construída quando a função principal do Governo for a proteção do cidadão”.
O ativista defende que é a forma como se olha para os cidadãos que ajuda a criar uma sociedade mais solidária e mais preocupada com o bem comum, “com menos egoístas no Governo, com menos ladrões na administração publica”.
“Enquanto não se valorizar o ser humano, será muito pouco o que podemos fazer para o bem do país. A grande diferença quando olhamos para os países desenvolvidos ou que se estão a desenvolver é a criação de espaço para a valorização do ser humano”, acrescentou, indicando que a burocracia e estrutura da administração publica angolana têm funcionado no sentido contrário ao desenvolvimento do cidadão.
“Se continuarmos embrutecidos e não começarmos a usar a cabeça, a nossa soberania será sempre vulnerável a qualquer chico-esperto que descubra as nossas fragilidades. Muitos angolanos roubaram milhões de dólares e hoje estão em situação aflitiva porque o dinheiro ficou com os sócios estrangeiros ou está congelado lá fora. O país perdeu e eles perderam também”, assinalou Rafael Marques.
Há 20 anos, em 04 de abril de 2002, o governo do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) e a União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), as duas formações políticas beligerantes que estiveram envolvidas, desde a independência do país, numa longa guerra civil que se arrastou por 27 anos, assinavam na cidade de Luena (Moxico) os acordos que, finalmente, permitiram a Angola viver em paz.
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