Coimbra
Associação CulturXis acusa vereadora Carina Gomes de “incompreensível animosidade” (com vídeo)
Tiago Nunes, presidente da CulturXis e diretor artístico do Ciclo de Concertos de Coimbra, escreveu uma carta aberta à vereadora Carina Gomes onde faz referência à polémica levantada em relação ao apoio do Município dado à associação. Num texto com 13 pontos, o responsável acusa a anterior detentora do pelouro da Cultura da autarquia de “incompreensível animosidade” e “repudia veementemente comentários” efetuados pela autarca numa entrevista ao Notícias de Coimbra à margem da reunião de Câmara onde o assunto foi debatido.
Leia na íntegra a carta aberta:
A propósito de um pedido de financiamento endereçado à Câmara Municipal de Coimbra (CMC) para o 7.º Ciclo de Concertos de Coimbra (CCC), a Sra. vereadora Carina Gisela Gomes acusou publicamente não só a CulturXis de não ter apresentado à Câmara a documentação necessária para a apreciação do projeto, mas também o Prof. José Manuel Silva de ter favorecido esta associação cultural. A bem da verdade, cumpre esclarecer o seguinte:
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- O projeto da CulturXis, que previa a realização dos 6.º e 7.º CCC em 2021 e 2022, mereceu um financiamento e aprovação pela DGArtes em 2020. Qualquer candidatura à DGArtes implica a apresentação de uma carta de compromisso de apoio financeiro ao projeto assinada pelo Presidente da Câmara onde o projeto venha a ser concretizado. Ao fim de muitas diligências sem êxito junto da Sra. Dra. Carina Gisela Gomes, então vereadora da Cultura, a CulturXis logrou finalmente obter, poucos dias antes de expirar o prazo de candidatura à DGArtes, a imprescindível carta de compromisso assinada pelo Dr. Manuel Machado.
- Ciente dessa carta de compromisso, a Sra. vereadora Carina Gisela Gomes apoiou o 6.º CCC com um financiamento irrisório, tendo em conta o número de concertos oferecido. (Valeria a pena o exercício de comparar este modesto apoio com os montantes concedidos pela CMC a outras iniciativas culturais da cidade, decerto muito meritórias).
- Ora o 7.º CCC que se realizou este ano insere-se exatamente no mesmo projeto bienal aprovado pela DGArtes, que a Sra. vereadora Carina Gisela Gomes tinha em sua posse desde 2019 e que fora aprovado em 2020.
- Dado que, até ao início de março passado, a CulturXis não tinha ainda recebido qualquer informação sobre o montante do apoio que a CMC iria conceder este ano ao 7.º CCC e dado que faltavam pouco mais 2 meses para o início da iniciativa, resolvi, na qualidade de Presidente da Direção desta associação, pedir uma audiência ao Senhor Prof. José Manuel Silva, alertando-o para a urgência de uma resposta da CMC, sob pena não só de ser cancelada esta edição do ciclo, mas também de ser suspenso o financiamento da DGArtes a este importante conjunto de realizações culturais em Coimbra.
- O Prof. José Manuel Silva terá então solicitado ao serviço competente da CMC um parecer sobre a situação do projeto em apreço da CulturXis.
- Este parecer foi reencaminhado em finais de março para a CulturXis pelo Prof. José Manuel Silva, cuja atitude de transparência é desde logo digna de louvor. As entidades culturais têm de facto todo o direito de conhecer cabalmente os respetivos pareceres técnicos emitidos pelas entidades públicas que têm o poder de chumbar, ou de viabilizar, os projetos que lhes são submetidos.
- Ora, o referido parecer emitido pelo Departamento da Cultura sobre o projeto da CulturXis aprovado pela DGArtes é revelador de uma análise completamente enviesada, baseada em premissas erradas, do projeto submetido em 2019, onde se encontram preto no branco as respostas a TODAS as objeções levantadas juntamente com a carta de intenção de apoio ao projeto em apreço, assinada pelo então presidente da Câmara Dr. Manuel Machado.
- A CulturXis repudia veementemente comentários do seguinte teor: «Agora eu pergunto, como é que se analisa isto? Onde estão as biografias dos artistas, horas e locais de actuação? O que vão tocar? […] Isto espremidinho não é nada. Fica-se a saber mais sobre um dos instrumentos que vai ser usado num dos eventos, do que propriamente sobre os concertos. [,,,] Quantos concertos fazem parte do “Ciclo Concertos Escolas”? Em que escolas vão decorrer? Para que idades? Com que reportório e duração? Quem são os artistas? E quais são as condições em que vão funcionar as masterclasses (duração, requisitos para inscrição, local, etc)? […] O que se retira desta proposta da CulturXis, [SIC!] é que o projecto nem sequer está devidamente explicitado, quanto mais fundamentado. Para analisar a proposta, não basta dizer que se vai fazer X eventos com sabe-deus-quem, sobre sabe-deus-o-quê, sabe-deus-quando ou sabe-deus-onde. […] Mas, não estou segura que o CCC já seja um evento de referência na cidade, como afirmam no formulário. […] os compromissos assumidos com a DGArtes ou outras instituições devem ser considerados irrelevantes para os procedimentos internos de apoio a associações e não devem ser usados como argumento para forçar o apoio municipal a uma má candidatura».
- Com que autoridade técnico-científica é que se emitem juízos de valor daquele calibre, reveladores de uma incompreensível animosidade em relação à CulturXis, de uma enorme incompetência sobre a forma como devem ser elaborados pareceres técnicos e ainda de uma ignorância espessa não só sobre as 6 edições do CCC, mas também da própria CulturXis? Quem elaborou este parecer não tinha de facto a mais pálida noção do que estava a avaliar.
- Na verdade, este parecer “técnico”, que a Sra. vereadora usou como arma de arremesso contra o projeto da CulturXis e contra o Prof. José Manuel Silva, ignorou: i) o historial das 6 edições do CCC; ii) que a CulturXis foi a entidade cultural ao nível nacional que organizou o 1.º festival online durante pandemia e foi a 1.ª a concretizar um festival presencialmente após o pico da pandemia; iii) que o CCC foi publicitado por órgãos de comunicação e blogues da especialidade de referência nacional; iv) que o CCC foi publicitado em todos os órgãos de comunicação regional; v) que o CCC é, uma referência na cidade e que os memoráveis concertos dados por Adriano Jordão, António Vitorino de Almeida e Artur Pizarro, entre muitos outros, permanecem na memória de todos aqueles que encheram as respetivas salas onde atuaram. Apesar de terem sido completamente ignorados nos meios de divulgação cultural da CMC. Só no ano passado, a CulturXis solicitou 5 vezes à CMC que anunciasse o CCC na sua agenda cultural e na sua página no Facebook. Nunca obteve resposta.
- A Dr.ª Carina Gisela Gomes tinha a obrigação de conhecer o projeto bienal da CulturXis aprovado pela DGArtes, dado que lhe concedeu um apoio financeiro em 2021. A senhora vereadora tinha também a obrigação de saber que as objeções ao projeto levantadas pela técnica do Departamento que liderou ao longo de tantos anos não tinham qualquer fundamento, dado que as respostas às mesmas se encontravam no próprio projeto. A Dr.ª Carina Gisela Gomes optou, contudo, por fazer-se eco destas objeções nos bancos da oposição ao atual executivo camarário e nos meios de comunicação social regionais.
- Ao contrário do que afirma a Sra. vereadora Carina Gisela Gomes, o Prof. José Manuel Silva não tratou de forma diferenciada a CulturXis. Limitou-se a receber-me com enorme gentileza, da mesma forma tem decerto recebido todos os que lhe solicitam audiência.
- O Prof. José Manuel Silva, que sempre incentivou a CulturXis com a sua presença assídua em todas as edições do CCC, terá tido o cuidado de ler o parecer “técnico” que lhe foi entregue e a resposta ao mesmo que de imediato lhe enviei. Decidiu, com manifesta visão estratégica, atribuir um apoio financeiro de 50% do valor concedido pela DGArtes à 7.ª edição do CCC, que foi o êxito que se conhece e que contribuiu decisivamente para colocar Coimbra no mapa da cultura nacional.
- Termino esta carta lamentando que a Sra. vereadora Carina Gisela Gomes, ao longo dos dois mandatos que esteve à frente do Departamento da Cultura da CMC, nunca se tenha dignado assistir a um único dos numerosos concertos realizados no âmbito dos 6 CCC, inclusivamente os dados por vários artistas de enorme prestígio nacional, como, entre outros, Adriano Jordão, António Capelo, António Victorino d’Almeida, Artur Pizarro, que celebraram momentos importantes das suas carreiras em Coimbra. Este ano também não assistiu a nenhum dos magníficos concertos dados por artistas renome internacional, como Pavel Gomziakov, Gülsin Oney, Zoran Imsirovic, Ceciliu Isfan, Leonardo Hilsdorf. A verdade é que a Sra. vereadora Carina Gisela Gomes nunca teve sequer o cuidado de responder aos numerosos convites que a CulturXis teve sempre o cuidado de lhe endereçar.
O documento é assinado por Tiago Nunes que se identifica como Presidente da Direção da CulturXis e Diretor Artístico do Ciclo de Concertos de Coimbra.
Leia também: Polémica por causa de apoio ao Ciclo de Concertos de Coimbra (com vídeo) – Notícias de Coimbra (noticiasdecoimbra.pt)
Veja a entrevista a Carina Gomes que motivou a carta:
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