Um dos três arguidos suspeito de traficar droga dentro da prisão de Coimbra recusou hoje no tribunal qualquer envolvimento no esquema e salientou que nunca recebeu qualquer produto.
O principal arguido, um recluso de 35 anos reincidente neste tipo de tráfico dentro da cadeia, e uma mulher de 41 anos, desempregada, suspeita de funcionar como correio de droga nas visitas à prisão ao fim de semana, decidiram ficar em silêncio no início do julgamento que começou hoje à tarde, no Tribunal de Coimbra.
Já o outro arguido, um recluso de 49 anos que entretanto foi transferido para outra prisão, negou por completo qualquer envolvimento no tráfico de droga dentro da cadeia.
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Segundo a acusação a que a agência Lusa teve acesso, o principal arguido terá proposto ao seu colega receber uma mulher nas visitas ao fim de semana, que lhe entregaria a droga, ficando depois com uma parte do lucro do tráfico na cadeia, entre maio e junho de 2018.
“A mim nunca me entregou nada”, vincou o recluso, admitindo que houve várias visitas da mulher, que iria para fazer companhia à namorada do principal arguido, entretanto falecida.
Questionado sobre qual a finalidade das visitas, o recluso não se soube explicar quanto ao objetivo das mesmas, alegando que, a determinada altura, quando se apercebeu que a mulher ia falar com outras pessoas e não com ele, decidiu acabar com as visitas (a mulher acabou por ser apanhada numa revista quando se preparava para entrar na prisão para visitar o arguido).
“Eu não a conhecia. Conheci-a lá dentro”, frisou, referindo que foi o seu colega da prisão que a apresentou.
Durante as declarações deste recluso, a arguida, que assistia ao julgamento à distância, riu-se e mostrou-se incrédula por diversas vezes durante o depoimento do suspeito.
Uma inspetora da Diretoria do Centro da PJ explicou que foram os serviços prisionais que alertaram para suspeitas de tráfico dentro da prisão.
O principal arguido terá pedido uma troca dos dias de visita e do lugar onde ficava na sala das visitas para poder ficar próximo dos outros dois suspeitos, quando recebia a sua namorada, que também levaria droga para dentro da cadeia.
“Havia muita informação que foi possível recuperar no telemóvel da namorada” do principal arguido, salientou a inspetora.
Questionada sobre o porquê de não ter ouvido mais reclusos que poderiam ser potenciais clientes, a testemunha realçou que as diligências desse tipo num ambiente prisional tornam-se “inúteis”, por os reclusos se sentirem “pressionados e coagidos, numa situação de grande vulnerabilidade”.
Sobre a mulher que funcionava como correio de droga para dentro da prisão, a inspetora referiu que esta “foi usada no esquema”.
“Efetivamente, ela estava numa posição vulnerável, que estamos a falar de valores baixos. Cem euros para arriscar a liberdade de uma pessoa? Umas fazem-no por amor, outras por necessidade do dinheiro. Aqui terá sido o dinheiro”, afirmou a inspetora.
Os três arguidos são acusados de crime agravado de tráfico de estupefacientes.
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