Coimbra

Ar das escolas de Coimbra é perigoso para a saúde

Notícias de Coimbra | 8 anos atrás em 03-01-2017

Uma investigação de Ana Ferreira, professora da Escola Superior de Tecnologia da Saúde de Coimbra (ESTeSC), revela a presença de concentrações de CO2, compostos orgânicos voláteis (COVs), formaldeído (CH2O) e de partículas em salas de aula em Coimbra que excedem os limites máximos permitidos por lei, pondo em causa a saúde, o conforto e o processo de aprendizagem das crianças e podendo aumentar a ocorrência de doenças respiratórias, alérgicas, cardiovasculares e cancro.

 

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O estudo feito à qualidade do ar interior em 51 escolas do 1.º Ciclo do Ensino Básico no concelho de Coimbra envolveu um milhar de alunos.

 
Os resultados são apresentados na tese de doutoramento em Ciências da Saúde, Ramo de Ciências Biomédicas, apresentada à Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra em 2015, intitulada “Qualidade do Ar Interior em Escolas e Saúde das Crianças”, e são agora publicados em livro, com lançamento amanhã, dia 4, às 16:00, na ESTeSC. Trata-se do sexto volume da Coleção “Ciência, Saúde e Inovação | Teses de Doutoramento”.

 
Segundo Ana Ferreira, que é também vice-presidente da ESTeSC, o estudo avaliou as concentrações de partículas, de monóxido de carbono, dióxido de carbono, ozono, compostos orgânicos voláteis, entre outros, assim como a temperatura e humidade relativa, com o objetivo de caraterizar a qualidade do ar interior das salas de aula das escolas do 1º Ciclo do Ensino Básico do concelho de Coimbra, bem como a qualidade do ar ambiente. Pretendeu-se ainda estimar o estado atual de saúde dos estudantes e propor medidas mitigadoras para os resultados encontrados.

 
A avaliação foi feita no período de outono/inverno e de primavera/verão, em escolas pertencentes a todas as freguesias do concelho de Coimbra, classificadas de freguesias mediamente e predominantemente urbanas e freguesias predominantemente rurais. A capacidade respiratória das crianças do 1º e 4º ano dessas escolas foi também alvo de avaliação, e os pais e encarregados de educação foram questionados sobre os sinais, sintomas e patologias dos seus educandos.

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Segundo a investigadora, o estudo verificou que “várias escolas apresentaram má Qualidade de Ar Interior – QAI. Vários parâmetros ambientais ultrapassaram o legislado: CO2, PM2,5, PM10, COVs, CH2O. A Temperatura e a humidade relativa nas salas de aula também revelaram resultados preocupantes para o conforto das crianças. A concentração de poluentes foi superior nas salas de aula, face às concentrações verificadas no exterior. As escolas, na sua maioria, há muito não são objeto de reabilitação, possuindo muitos anos de existência. Apresentam deficiências nos seus aspetos construtivos, falta de sistema de climatização e falta de ventilação mecânica ou mista.

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A forma como a limpeza dos espaços era feita, o número de ocupantes, as atividades desenvolvidas e o armazenamento de papel, materiais e equipamentos nas salas de aula, a utilização de fogões ou salamandras, a utilização de quadro de lousa e giz e a falta de ventilação mecânica, contribuíram para os resultados obtidos.

 
“Em resultado desta situação, especialmente no outono/inverno, foram medidos teores especialmente elevados de CO2 e de partículas (PM10 e PM2,5), revelando claramente deficiências da qualidade do ar interior devido à insuficiente ventilação e renovação do ar”, refere a professora.
O estudo revelou uma ligação entre alguns parâmetros ambientais analisados e “sinais, sintomas e patologias, bem como alterações na função respiratória nos estudantes”, explica a professora, que realça “a implementação de mecanismos para a melhoria da qualidade do ar nas escolas” como “uma medida importante para a prevenção de consequências adversas à saúde das crianças”.

 
A professora alerta que “Portugal foi pioneiro na definição de regras para garantir uma boa qualidade do ar dentro dos edifícios”, no entanto, com a revisão da legislação (há dois anos), na prática eliminou-se a obrigação de certificar e auditar periodicamente os edifícios, deixando de garantir que quem neles trabalha ou estuda respire um ar saudável. É preciso intensificar esforços no desenvolvimento de estratégias eficazes no âmbito da saúde pública e da saúde ambiental, contribuindo para a elaboração de politicas voltadas para a qualidade do ar.

 
E acrescenta: “É fundamental que as escolas procedam a melhorias estruturais e funcionais, que realizem monitorizações contínuas, de forma a não exporem as crianças a situações de risco. Devem melhorar os sistemas de renovação do ar. Deverá existir uma preocupação com uma adequada exposição solar, por forma a evitar o aparecimento de humidade (que favorece o aparecimento de bactérias e fungos). Para além destas preocupações, tem que se modificar e alterar comportamentos por parte dos ocupantes dos edifícios, realizando o simples hábito de abrir frequentemente as janelas”.

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