Opinião

Aquilo que é a irritação que me causa a expressão «Aquilo que é»

OPINIÃO | PEDRO SANTOS | 2 horas atrás em 01-02-2025

As bengalas linguísticas são muito úteis. Sobretudo, quando o nosso interlocutor diz coisas tão abstrusas que precisamos mesmo daqueles segundos adicionais que um «O que acontece é que…» ou um simples «Bem …» nos proporcionam antes de retorquirmos. Mas tudo o que é demais enjoa!

Sou capaz de apostar que a primeira pessoa que usou a bengala «Aquilo que é…» foi um treinador de futebol, embora isso possa não passar de preconceito meu. Tenho, porém, a certeza absoluta de que a expressão se generalizou ao ponto do fastio absoluto!

É hoje impossível, por exemplo, assistir a um telejornal televiso sem ser brindado com uma centena de «Aquilo que é…», mesmo que aquilo que é possa ser coisas tão diferentes como «a ação do governo», «o próximo adversário do Benfica» ou «a previsão meteorológica». Já para não falarmos das situações de trabalho em que somos brindados com o pacote pomposo daquilo que é para mascarar o enfado de mais uma reunião que não precisava de ter sido. Mesmo em palestras académicas, os oradores não resistem à tentação e acabam por se deixar arrastar numa corrente de verbosidade sobre aquilo que é.

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Curiosamente, nunca vi ninguém a dedicar-se à enunciação daquilo que não é, o que pelo menos poderia ter um efeito antiemético…

E, portanto, perante aquilo que é a repetição infindável desta expressão, forma-se neste escriba aquilo que é uma irritação que se torna difícil de manter debaixo daquilo que é o controlo!

É verdade que há muitas razões que podem explicar a utilização de «Aquilo que é» numa conversa ou numa entrevista, mas nenhuma me parece razoável. Se o seu enunciador pretende conferir um ar de maior sofisticação, estamos perante aquilo que é uma sonsice. Se procura dar mais ênfase às suas palavras, trata-se daquilo que é uma inutilidade. Se tem receio de ser claro sobre o que pretende afirmar, pois que não é mais do que aquilo que é uma cobardia.

Por isso, deixo o meu humilde apelo: se algo é, então que seja simplesmente. Libertem a língua portuguesa desta prisão de não poder simplesmente ser aquilo que é. Eu agradeço. Acredito que a língua também.

OPINIÃO | PEDRO SANTOS – ESPECIALISTA EM COMUNICAÇÃO

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