Opinião

António Costa, o candidato pisca-pisca

JOÃO MADEIRA | 10 anos atrás em 05-12-2014

O discurso de António Costa, no encerramento do Congresso socialista, foi uma autêntica leitura de um manual de como vencer eleições. Sem surpresa, e dando razão a quem o apelida de político hábil e experiente, soou evidente que Costa se preocupa mais com as aparências do que com as verdades. Que só atrapalham a quem quer, como ele, chegar ao poder a qualquer custo. António José Seguro que o diga!

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Não foi preciso estar muito atento para se perceber que do discurso do novo líder socialista não saíram propostas. Nem Costa precisa de o fazer para já, porque primeiro há que realçar as fraquezas dos outros. E para quem não quer regatear apoios, não há dúvida que José Sócrates lhe prestou, mesmo que involuntariamente, uma grande ajuda, pois neste momento não há quem lhe faça sombra na família socialista. Se à família juntarmos os amigos, que ao que dizem são muitos e poderosos (imprensa incluída, que é o melhor amigo para exibir as virtudes que a família invoca), então António Costa está bem encaminhado.

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Depois da família e dos amigos, os vizinhos são os senhores que se seguem no percurso de conquista de António Costa. E vai daí, ele olha para a esquerda e pisca, pisca. Chega ao ponto (cúmulo?) de usar a livre ambição alheia, dos que na esquerda nem partido têm. Como diz a música, é um truque muito usado, usado aonde calha e com belos resultados. Perfeito para o candidato Costa. Quem pisca não se faz rogado e, por isso, Costa também pisca à direita, comentando o Papa. Não faz a coisa por menos, e ficou dado como assente que ele é capaz de dizer qualquer coisa que sirva os seus propósitos. Não acredita?

António Costa, que quer ser primeiro-ministro, sabe que tem ainda de agarrar a grande massa de eleitores, aqueles que não são filiados, nem simpatizantes declarados. Estes é que verdadeiramente contam. Político hábil e experiente, como não se fartam de anunciar, ele sabe bem que tem de mentir com um sorriso nos lábios. É neste momento o oposto de uma maioria que honestamente diz que não promete o que não pode cumprir. Para Costa não há segredos: há que prometer, sem medo de amanhã ter de dizer que a final não pode cumprir.

Fá-lo, infelizmente, da pior maneira (a única que conhece?): promete direitos sociais infindáveis, melhor, sem anunciar como (com a renúncia a que outros direitos?) e quem os vai pagar. À semelhança do italiano Matteo Renzi, citado no seu discurso e que enviou uma mensagem a dizer “Podemos juntos fazer a nossa parte, numa esquerda que se ocupa dos jovens trabalhadores, dos jovens precários, daqueles que perdem o seu trabalho, dos desocupados, dos mais pobres, daqueles que hoje esperam da política uma palavra de esperança”, o que interessa a António Costa é encantar com a promessa de esperança, é baralhar os sonhos e ideais. É jogar com as paixões e emoções. É, afinal, aproveitar a “miséria” alheia em seu proveito populista, sem apelo nem agravo.

O ponto mais alto desta degradante anulação da dignidade humana espelhou-se no nome das vítimas de violência doméstica lido em voz alta no meio do Congresso do PS, para gáudio dos socialistas presentes. Quase que aposto que nenhum deles se lembrou do “velho” Kant que proclamava que devíamos agir de tal modo a tratar a humanidade, tanto na nossa pessoa como na do outro, sempre e ao mesmo tempo, como um fim e nunca simplesmente como um meio. António Costa não se coibiu de usar aqueles nomes como meio de propaganda. Ao fazê-lo, envergonhou-nos a todos e pisou a Declaração Universal dos Direitos Humanos, actual repositório da definição da nossa dignidade e que tem como um dos seus princípios basilares o respeito pela vida privada e familiar. Nesse momento, Costa revelou-se indigno de liderar o que quer que seja, muito menos o governo de um país.

João Madeira

JOÃO MADEIRA

Vice-presidente da distrital de Coimbra do CDS-PP

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