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Anozero: Bienal de arte contemporânea de Coimbra “explora espectros e fantasmas”

Notícias de Coimbra | 8 meses atrás em 05-04-2024

A bienal de arte contemporânea de Coimbra Anozero, que é inaugurada no sábado, explora espectros e fantasmas, a partir da ideia de liberdade, no ano em que se celebram 50 anos do 25 de Abril.

A quinta edição da Anozero, que terá como epicentro, uma vez mais, o Mosteiro de Santa Clara-a-Nova, é guiada pelo tema “O Fantasma da Liberdade”, evocando os 50 anos do 25 de Abril e os 100 anos do manifesto surrealista, utilizando o título de um filme do cineasta Luís Buñuel em 1974.

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Na entrada do mosteiro, está presente uma obra da dupla espanhola María Jesús González e Patricia Gómez, que expõem em panos pretos a primeira camada de parede do monumento, simbolizando cada uma delas as ocupações do edifício – o convento, o quartel militar e, agora, a bienal.

“Há um passado histórico invisível e espectral”, afirmou Marta Mestre, que partilha a curadoria da edição com Ángel Calvo Ulloa, frisando a vontade de abordar os fantasmas e o conceito de liberdade para se perceber melhor o atual “momento contemporâneo”.

Numa visita guiada para a imprensa, a equipa de curadores, que não viveu a revolução, olha para o acontecimento histórico como “um processo incompleto”, considerando que se pode tentar reimaginar e reinterpretar esse passado, por vezes, cheio de fantasmas.

A ideia de espectros num mosteiro há muito desocupado (e onde não são escondidos os sinais desse abandono) não está apenas presente em obras plásticas e visuais, mas também nos sons que se ouvem, que aparecem como ecos num edifício com mais de 10 mil metros quadrados.

No corredor principal (que noutras edições estava imerso na escuridão, mas que neste ano aparece luminoso), ouve-se uma instalação sonora de 1970 do artista francês Robert Filliou, em que imita o som de pássaros, também eles uma espécie de “fantasma, de bom fantasma”, nota Marta Mestre.

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No Mosteiro de Santa Clara-a-Nova, é possível ver uma estrutura de cimento transformada em obstáculo pela artista angolana Sandra Poulson para falar das fragilidades das economias do Sul Global, fotografias onde a artista brasileira Castiel Vitorino Brasileiro incorpora figuras ancestrais, um jogo sensual do artista argentino Diego Bianchi com estátuas, ou obras de João Marçal que apontam para a presença “fantasmagórica” da arte no quotidiano das pessoas, apresentando pinturas que remetem para os padrões dos estofos dos bancos de transportes públicos.

No mosteiro, será possível também ver, entre outros, o trabalho de Carla Filipe que, recorrendo a imagens no pós-25 de Abril, troca todas as caras de homens por caras de mulheres, ou de Priscila Fernandes, que apresenta 63 desenhos a preto e branco (o mesmo número de casas do jogo da Glória), onde aborda a dificuldade de se mudar o mundo.

Nos desenhos, surgem cavalos humanizados, naquilo que parece ser um jogo de sorte e azar, tendo como título de obra uma pergunta: “Quantos cavalos são necessários para mudar o mundo?”.

No espaço exterior do mosteiro, haverá uma instalação sonora do artista espanhol Berio Molina, virada para o centro de Coimbra, de onde sairá, duas vezes por dia, um som de buzinas de navios, numa cidade que fica a 50 quilómetros da costa.

Do exterior, vislumbra-se também numa das torres a inscrição do artista islandês Ragnar Kjartansson – “Não Sofra Mais” (título da sua exposição a solo em 2023, naquele mosteiro) -, e que estará presente até ao final da edição da Anozero.

Para além do mosteiro, a bienal terá também obras no Pátio das Escolas, Jardim Botânico e Coimbra-B, entre outros espaços da cidade.

Para além de fantasmas e espectros, há também uma dúvida que assola esta edição da bienal, cuja organização ainda aguarda por uma decisão quanto à transformação do mosteiro num hotel, processo que ainda não se sabe se irá em frente, depois de o primeiro de dois candidatos ter desistido do concurso.

A bienal começa no sábado e estende-se até 30 de junho.

A programação pode ser consultada aqui

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