A curta-metragem “Amor Quântico” marca a estreia em pleno de Paulo Furtado no cinema de ficção, um “cine-poema” que quer tocar o espectador e mostrar a possibilidade da esperança face ao abismo.
Em entrevista à Lusa, em Vila do Conde, onde apresentou o filme na competição nacional do festival Curtas, Paulo Furtado constatou a curiosidade de ser aos 48 anos que realiza aquela que considera a sua primeira curta-metragem, depois de vários trabalhos no audiovisual, com ligação à música, sem que alguma vez se tivesse deparado “com este problema de chegar aos sítios um bocadinho depois dos outros”.
PUBLICIDADE
“Amor Quântico” nasce de um poema escrito por Paulo Furtado, num momento em que milhares de pessoas chegavam às fronteiras da União Europeia, e que pretende representar “a possibilidade de o amor ser uma força que poderia eventualmente dobrar o tempo, que poderia moldar a realidade”.
Filmado no deserto de Tabernas, em Espanha, numa fábrica de tecidos de Vizela e no Pinhal de Leiria, a curta-metragem faz com que as paisagens sejam “quase personagens”.
“O filme também tem muito a ver com ter esperança à beira do abismo. E é um filme onde eu quis refletir sobre esta questão de estarmos efetivamente e possivelmente à beira de um abismo como humanos e continuarmos a caminhar alegremente em direção a ele. Para mim, era importante de alguma forma mostrar isto, mas mostrar também alguma esperança, mostrar que pode haver uma possibilidade de mudança”, disse Paulo Furtado.
Segundo o realizador, trata-se de “um filme que não é extremamente narrativo” e que tem como objetivo ser “aberto e aberto a várias interpretações”, mas que, em simultâneo, procura que “as pessoas [consigam] entrar neste mundo fundamentalmente criado pelo amor de uma mulher pelo seu filho”.
Com ideias para pelo menos mais duas curtas-metragens antes de se lançar numa longa, que já está em processo de escrita, o também músico reconhece que antes quer assistir à reação do público a “Amor Quântico”: “Se o filme não tocar as pessoas, se calhar tudo o que te estou a dizer neste momento, de que estou a escrever e muito confortável, torna-se numa coisa muito desconfortável”.
Paulo Furtado, também conhecido como Legendary Tigerman, reconhece que o filme revela uma “nova faceta” de si que é “bastante pessoal”.
“Há um grande amigo meu que disse que o filme era como estar comigo no Galeto à conversa. Que identifica ali o Paulo Furtado fora de palco, o Paulo Furtado como pessoa anónima, como amigo ou como ser humano que não tem nada a ver com música. E isso para mim acabou por me marcar bastante e me fazer pensar que provavelmente as pessoas verão uma nova faceta de mim que será bastante pessoal”, disse o artista.
Com produção da Bando à Parte, de Rodrigo Areias, “Amor Quântico” tem realização, argumento e música de Paulo Furtado (esta última enquanto Legendary Tigerman), sendo protagonizado por Lucie Lucas e João Melo.