Cidade
Alegre no Carmo
O histórico socialista Manuel Alegre disse hoje em Coimbra que vai comemorar o 25 de Abril no Largo do Carmo, em Lisboa, porque não quer assinalar o 40.º aniversário da revolução “ao pé de certas pessoas”.
“Não me apetece comemorar com pessoas que não têm o 25 de Abril no coração ou que não gostam” dele, disse hoje o antigo vice-presidente da AR, que falava à margem de uma sessão de apresentação do seu livro ‘País de Abril’.
“Vou comemorar onde me apetece e com quem me apetece”, sublinhou à agência Lusa o político socialista e poeta, referindo que 25 de Abril não tem para ele apenas “um significado político” mas também “um significado afetivo, muito profundo”.
“Não sou deputado, não sou obrigado a estar na Assembleia [da República]”, justificou Manuel Alegre, salientando que tem “um grande respeito” por este órgão de soberania.
“Esta Assembleia nasceu do 25 de Abril”, frisou o antigo dirigente do PS, recordando que foi deputado constituinte e à Assembleia da República (AR), mas não lhe “apetece estar ali”, na sessão oficial das comemorações dos 40 anos da revolução.
“Não ponho em causa a legitimidade das pessoas, mas tenho o direito e a liberdade de comemorar o 25 de Abril como me apetece e este ano não me apetece comemorar ali, ao pé de certas pessoas”, afirmou.
“Não tem nada a ver com direita e com esquerda”, assegurou Manuel Alegre, considerando que “há pessoas de direita que gostam do 25 de Abril, mas há outras que não só não gostam como são contra”.
“Há pessoas que não põem o cravo ao peito, que nunca puseram o cravo ao peito”, disse o ex-candidato à Presidência da República, escusando-se a explicitar.
“Como disse ontem [segunda-feira] Pacheco Pereira, não há memória, na história de Portugal de todos os tempos, de haver uma política como esta, contra os velhos, contra os mais pobres”, ou, “como disse Freitas do Amaral, há uma revisão da Constituição por via inconstitucional” e “isso põem em causa o 25 de Abril”.
“O 25 de Abril tem uma dimensão política, mas também tem uma dimensão social, cultural e ética”, sustentou Manuel Alegre.
A Associação 25 de Abril (A25A) vai “levar a efeito uma evocação a Salgueiro Maia, “personificando a homenagem a todos os militares de Abril, no Largo do Carmo, no dia 25 de Abril às 11:00”, durante a qual o seu presidente, Vasco Lourenço, fará “uma intervenção de fundo na linha da que seria feita na sessão solene na AR”.
A decisão da A25A de organizar uma cerimónia própria surgiu depois de os grupos parlamentares não terem chegado a um consenso para que um representante dos militares de Abril interviesse na sessão solene dos 40 anos do 25 de Abril na AR.
Durante a sessão de apresentação de ‘País de Abril’, hoje, ao final da tarde, na Casa da Escrita, em Coimbra, Manuel Alegre afirmou que em Portugal “as palavras estão ocupadas”, há “um discurso único, há um pensamento único”, mas não são só eles que estão ocupadas, o país também “está ocupado”.
“Tu que andas triste, não te feches em casa, vem à rua celebrar”, apelou Manuel Alegre, citando o cofundador do PS António Arnaut, que fez a apresentação do livro – uma antologia de “poemas que falam de Abril antes de Abril e de Maio antes de Maio”.
Manuel Alegre “não foi e é apenas a voz da liberdade, foi e é a liberdade em ação”, sustentou António Arnaut, considerando que “querem fazer regressar Portugal ao saguão”.
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