Tribunais

Alegada vítima de tráfico de seres humanos em Cantanhede diz que arguido nunca lhe pagou

Notícias de Coimbra com Lusa | 3 anos atrás em 21-03-2022

 Uma das duas vítimas de um processo em que pai e filha são acusados de tráfico de seres humanos em Cantanhede afirmou hoje que nunca recebeu dinheiro pelo trabalho prestado e que chegou a dormir numa vacaria.

A leitura de sentença, que estava marcada para hoje, acabou por ser adiada, por o coletivo de juízes decidir que importava ouvir as duas vítimas (que tinham prestado declarações para memória futura) para esclarecer algumas questões.

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No Tribunal de Coimbra, são julgados um homem de 80 anos, sócio-gerente de uma empresa dedicada à comercialização de têxteis, vestuário e outros produtos, e a sua filha, de 52 anos.

São acusados da prática de crimes de auxílio à imigração ilegal e tráfico de pessoas.

Uma das vítimas, um cidadão de nacionalidade romena, referiu na sessão de hoje que primeiro trabalhou para o arguido e, posteriormente, para a filha do mesmo.

Questionado pela juíza que preside ao coletivo, o homem, que admitiu ter tido problemas de alcoolismo, afirmou que nunca recebeu qualquer ordenado, nem qualquer valor fixo.

“Nunca tive dinheiro. Nunca me deu dinheiro. Deu-me 30 euros uma vez e, numa feira, um dia, deu-me um relógio”, contou, referindo que uma vez, quando lhe pediu dinheiro para ir a um cabeleireiro, o arguido terá recusado.

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Já a filha do principal arguido pagava-lhe 1,25 euros por dia, mas o pagamento não era regular, referiu.

O homem acabou por estar a trabalhar para aqueles dois arguidos entre 2014 e 2018.

Se ao início, dormia numa vacaria, “que era muito fria no inverno” e onde partilhava o espaço com porcos e ovelhas, posteriormente dormiu numa carrinha, “que era muito mais confortável”.

No julgamento, o arguido referiu que trabalhava entre as cinco da manhã e perto da meia-noite, seis dias por semana, e tomava banho muito “raramente” numa bacia com água fria – “fosse inverno ou verão”.

Quando questionado pela juíza sobre o porquê de ter deixado de trabalhar para aquela família, a vítima afirmou que “era muito duro”.

“Era sempre ‘faz isto’, ‘faz isto’, ‘faz isto’. Estava farto”, disse o homem, que após esta situação, recebeu tratamento por causa do alcoolismo.

A acusação referiu ainda outra vítima, de nacionalidade ucraniana, que também teria problemas de álcool quando trabalhou para o arguido, entre 2014 e 2019.

Segundo o Ministério Público, cumpria o mesmo horário de trabalho que a outra vítima, tendo também pernoitado, durante cerca de um ano, na vacaria do arguido, e também não recebia rendimento de forma regular.

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