Opinião

Alarves do LOL

OPINIÃO | PEDRO SANTOS | 59 minutos atrás em 23-11-2024

Não é descabido dizer que vivemos na era do emoji. Aquela carinha amarela que parece estar em todo o lado, que pretendia simbolizar felicidade mas que a voragem da Internet tratou de multiplicar numa infinidade de outras carinhas com múltiplos estados de espírito e que, pior do que isso, foi entretanto sequestrada pela alarvidade digital.

Não falo, evidentemente, da gargalhada honesta provocada por uma boa piada ou, até, um vídeo de gatinhos (nenhuma pessoa bem formada resiste a um vídeo de gatinhos). Refiro-me às gargalhadas dos ‘senhores da verdade’ que têm como missão transformar qualquer reivindicação social num espetáculo de escárnio. Reage-se a uma notícia sobre direitos LGBT? Lá está um emoji com uma gargalhada! Uma marcha antirracista? É obrigatório triplicar as gargalhadas! Uma reivindicação por igualdade de género? Que melhor comentário do que uma cara a rebolar de riso! Nem uma linha de raciocínio: só emojis a pontuar a miséria da argumentação.

PUBLICIDADE

Dos alarves do LOL, uma subespécie da fauna digital, não se pode sequer dizer que são fanáticos da discordância, porque discordar exige reflexão, abertura de pensamento, talvez até alguma empatia – tudo isso é demasiado penoso para quem acha que um teclado é arma e que o emoji é a bala. Eles não estão a rir, note-se: a gargalhada é uma fachada, um grito de impotência travestido de humor.

Existe no comportamento destas curiosas criaturas uma contradição, talvez até alguma esquizofrenia, expressa no facto de passarem a vida a lamentar que «Já não se pode dizer nada», sem que se calem por um segundo sequer. Estão apostados, afinal, em silenciar através do ruído insuportável do LOL todos os quem propõem novas ideias, lutam por dignidade ou questionam o status quo. Porque é mais fácil rir de quem tenta mudar algo do que admitir que talvez, só talvez, haja problemas no mundo que não se resolvem com mais um emoji usado cinicamente.

É um retrato triste de um mundo onde as redes sociais dominam e condicionam o nosso quotidiano, mas por esta mesma razão é importante que não normalizemos nem retiremos importância a este tipo de comportamentos. Porque não é um mundo onde valha a pena viver, aquele em que reinam as gargalhadas vazias de quem mais nada tem para contribuir a não ser um LOL.

OPINIÃO | PEDRO SANTOS – ESPECIALISTA EM COMUNICAÇÃO

Related Images:

PUBLICIDADE

publicidade

PUBLICIDADE

publicidade

PUBLICIDADE