Economia
Agricultores do Mondego exigem “imediato” apoio do Governo para evitar falências
A Associação Distrital dos Agricultores de Coimbra (Adaco) exigiu hoje ao Governo apoio “imediato” aos agricultores do vale do Mondego, argumentando que, sem ajudas, o “aumento brutal” dos fatores de produção irá levar à falência inúmeras explorações agrícolas.
Em declarações à agência Lusa, Isménio Oliveira, coordenador da Adaco, argumentou que fatores de produção como os adubos aumentaram 200% no espaço de um ano (de 200 euros para 600 euros a tonelada), “e o feno a mesma coisa”, para além do aumento do gasóleo verde “para o dobro”, de 80 cêntimos por litro, “já com o apoio que havia”, para cerca de 1,6 euros.
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“São aumentos brutais, a situação é incomportável. E a ministra [da Agricultura] não foi nada explicita ontem [terça-feira] quando falou que poderia haver uma redução do ISP [Imposto sobre Produtos Petrolíferos] ou uma isenção. Deve estar à espera da União Europeia, não sei quanto tempo isso vai demorar, mas as medidas são realmente muito urgentes, tem de ser este mês”, defendeu Isménio Oliveira.
Por outro lado, Isménio Oliveira revelou que saiu há dois dias uma portaria de apoio à eletricidade verde de 20% do gasto total até 50 hectares e 10% para quem tem mais de 50 hectares.
“Isto é manifestamente insuficiente, defendemos que tem de haver 50% de desconto na tarifa de energia, os 20% e os 10% não vão resolver grande coisa”, acrescentou o coordenador da Adaco.
Isménio Oliveira frisou ainda que numa altura em que os fatores de produção aumentam consideravelmente, os preços pagos à produção “continuam sensivelmente a mesma coisa”.
“A situação é muito grave e quando se fala em falência de muitas explorações agrícolas, resultando em muita gente a abandonar a produção, não se está a exagerar, é isso mesmo que vai acontecer”, avisou
Na zona do vale do Mondego a atividade agrícola ocupa cerca de 15 mil hectares e sensivelmente seis a sete mil agricultores, sendo o arroz, milho, hortofrutícolas e batata as principais produções.
Isménio Oliveira lembrou que tanto a produção de arroz – onde Portugal é o maior consumidor da Europa “com cerca de 15 quilos por pessoa por ano” – como a de milho “é deficitária” face às necessidades de consumo.
“A ministra falou que produzimos 50% do que consumimos, mas não chegamos a esse número, é muito menos. Somos deficitários na produção e temos de importar”, alegou.
O coordenador da Adaco frisou ainda que a União Europeia, ao nível da Política Agrícola Comum, “tomou a decisão de pagar para não produzir”, uma situação que leva a que Portugal “não produza o que necessita”.
“E com a atual situação, não se entende que o Governo ainda não tenha tomado medidas, porque os agricultores que pedem ajuda ao pagamento único, e são a grande maioria, acima de 15 hectares têm de deixar 5% em pousio obrigatório. Não se percebe como é que o Governo ainda não tomou medidas, não tenha pedido à União Europeia que face a esta situação acabe com esta obrigatoriedade de deixar terrenos em pousio, porque temos défice de produção. É uma medida que também vamos reclamar com caráter de urgência”, revelou Isménio Oliveira.
A Adaco agendou para domingo, às 10:30, na localidade de Carapinheira, em Montemor-o-Velho, uma reunião de agricultores do Mondego, que irão exigir “a tomada de medidas urgentes de apoio concreto por parte do Governo”, sendo “provável”, segundo Isménio Oliveira, que se definam “medidas de luta” na região caso as reivindicações não sejam atendidas.
Os agricultores irão elaborar “um caderno de reclamações a apresentar com caráter de urgência ao Governo” e discutir a eventual participação no protesto promovido pela Confederação Nacional de Agricultura (CNA), em Braga, no dia 24, aquando da abertura da AgroBraga.
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