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“Agora não me vou sentar no sofá a ler o jornal e a beber uma caneca de cerveja ou um whisky”
O diretor do Centro de Cirurgia Cardiotorácica do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC), Manuel Antunes, passa em julho à condição de aposentado, por atingir o limite de idade, mas recusa abandonar a atividade.
Em declarações à agência Lusa, o cirurgião critica a lei de 1929 que o obriga a deixar de trabalhar no sistema público por atingir os 70 anos, considerando que “ainda teria muito para oferecer ao Serviço Nacional de Saúde (SNS)”.
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“Agora não me vou sentar no sofá a ler o jornal e a beber uma caneca de cerveja ou um whisky”, salientou o cirurgião, acrescentando que também não está “muito inclinado” para chefiar grupos de trabalho “disto ou daquilo”.
O médico e professor catedrático da Universidade de Coimbra considera que “ainda continua bem na sala de operações, e é lá” que continuará a estar, “o que significa que se não puder ser no SNS, só pode ser no sistema privado”.
O cirurgião salienta que tem várias opções, até no estrangeiro, em prol das ações humanitárias em que também se dedicou, ou na edição internacional de trabalhos científicos, em que tem mais de 400 artigos publicados, mas que é na sala de operações que pretende continuar a sua atividade.
Notícias de Coimbra sabe que o grupo Luz Saúde, que recentemente adquiriu a Idealmed em Coimbra, deseja contratar Manuel Antunes.
“Sempre disse que o setor privado é um bom complemento para o SNS e, provavelmente, é assim que vou fazer”, disse Manuel Antunes, que durante o seu percurso profissional se dedicou exclusivamente ao SNS, liderando um serviço com um corpo clínico em regime de dedicação exclusiva e sem lista de espera.
Manuel Antunes especializou-se e doutorou-se em cirurgia cardiotorácica na África do Sul, onde foi diretor de serviço durante 13 anos e meio, vindo depois para Coimbra, em 21 de março de 1988, por convite, para chefiar o Serviço de Cirurgia Cardiotorácica dos Hospitais da Universidade de Coimbra.
O serviço afirmou-se sobretudo nas áreas da transplantação cardíaca e da reparação da válvula mitral, e foi responsável, desde logo, pela eliminação da lista de espera para cirurgia cardíaca e torácica existente no Centro do país.
Nestes 30 anos, Manuel Antunes liderou uma equipa responsável por 45.000 cirurgias cardíacas e pulmonares, 358 transplantes cardíacos, num serviço classificado pelo Ministério da Saúde como Centro de Referência, reconhecido nacional e internacionalmente.
“Antes de eu vir, entre 1976 a 1985, tinham sido operados 183 doentes ao coração, cerca de 20 por ano, com uma mortalidade elevadíssima, e nós só no primeiro ano, em cinco meses de atividade, ultrapassámos esses valores”, recordou o cirurgião.
Segundo Manuel Antunes, o serviço tinha sido construído para 250 por ano, “o que era um grande salto”
“Mas eu disse que, para a região Centro, precisávamos de pelo menos 450 a 500″, pelo que foi necessário efetuar adaptações nas instalações ainda antes de serem inauguradas.
Depois, “foi sempre a crescer e hoje opera-se mais de 1.900 doentes. Foi um impacto muito grande em Coimbra, mas também, de certo modo, a nível nacional, porque se trouxe uma maneira diferente de lidar com as coisas que, por arrasto, fez com que os outros serviços também melhorassem”, sublinhou.
Apesar de ser o serviço que, em conjunto, cardíaco e torácico/cardíaco e pulmonar, tem maior atividade no país, não tem lista de espera “e opera doentes, basicamente, de todo o país”, acrescentou.
O Círculo de Amigos do Centro de Cirurgia Cardiotorácica do CHUC promove um jantar de gala e homenagem ao cirurgião Manuel Antunes, no dia 16, no Convento São Francisco, em Coimbra.
A iniciativa acontece por ocasião dos 30 anos do Centro de Cirurgia Cardiotorácica e coincide com o 70.º aniversário e jubilação do seu diretor.
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