Acabo de ler que o director de Cirurgia geral do CHUC é coordenador da equipa da Unidade de Obesidade de um hospital privado (CUF) a funcionar em Coimbra.
Sem pôr em causa a probidade de José Guilherme Tralhão, confesso ficar intrigado com o despudor com que o médico acha normal acumular a direcção de serviço num hospital público com tarefas de coordenação num privado.
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Em abstracto, não consigo vislumbrar inexistência de potencial conflito de interesses. Por isso, não consigo compreender como a Administração da Unidade Local de Saúde de Coimbra (a que o CHUC pertence) fecha os olhos à acumulação de funções.
Um estudo da consultora Lisbon Economics, acabado de divulgar, indica que as despesas em saúde têm crescido a um ritmo superior ao do Produto Interno Bruto, alertando para a repercussão na sustentabilidade no Serviço Nacional de Saúde (SNS).
Segundo a CNN/Portugal, os carteis na saúde lesaram o Estado português em mais de mil milhões de euros num horizonte de 20 anos (2003-2023), mas o real impacto dos conluios pode ascender a perto de 15 mil milhões em duas décadas, pois, segundo consta, apenas 10 por cento das infracções são detectadas.
António Arnaut, criador do SNS enquanto outrora ministro dos Assuntos Sociais, estimava em 25 por cento “o desperdício” no Serviço Nacional de Saúde.
A visibilidade de José Guilherme Tralhão, indissociável do seu mérito, recomenda, do meu modesto ponto de vista, em nome do exemplo, que ele não acumule as sobreditas funções enquanto médico ao serviço do CHUC e do Hospital da CUF/Coimbra.~~Já agora, por que não é, pura e simplesmente, proibida a acumulação deste tipo de funções?
O cirurgião, presidente da Mesa da Assembleia da Secção Regional do Centro da Ordem dos Médicos, é professor catedrático da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra, a cuja Assembleia também preside.
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