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Achado da Universidade de Coimbra identifica origem de anforetas espalhadas pelo mundo

Notícias de Coimbra com Lusa | 2 anos atrás em 09-09-2022

A descoberta de anforetas numa igreja de Aveiro põe em causa a classificação de idênticos achados por todo o mundo, atribuídos a produção do sul de Espanha, de acordo com um estudo agora divulgado.

O arqueólogo do Centro de Estudos em Arqueologia, Artes e Ciências do Património da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra Ricardo Costeira da Silva revela, num artigo sobre o espólio cerâmico exumado aquando das obras de reabilitação da Igreja de Santo António de Aveiro, que foram ali encontradas 25 anforetas e um cantil.

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O trabalho refere que “as condições e contexto de achado permitem atribuir a este lote uma cronologia precisa (1524) associada à primeira fase de construção do edifício e a recolha de numerosos recipientes inteiros e com defeito de fabrico atesta a sua produção local”.

Em declarações à Lusa, Ricardo Costeira da Silva revela dados novos que corroboram a conclusão: “conseguiu-se comprovar esta produção regional, não só das anforetas mas também de outros tipos de recipientes cerâmicos, através de análises arqueométricas que realizámos num trabalho interdisciplinar e com a colaboração da Universidade do País Basco”.

 Na coleção de cerâmica recuperada “no carrego da abóboda” do coro-alto da Igreja de Santo António, “além de cerâmica utilitária e da cerâmica do açúcar em que Aveiro foi preponderante, destaca-se o grupo composto por várias anforetas que se encontravam praticamente omissas do registo arqueológico local e que agora se identificam, categoricamente, como produções originárias desta cidade”.

O conjunto cerâmico ficou à vista numa intervenção arqueológica realizada por Andreia Lourenço, aquando da substituição do soalho do coro-alto da Igreja de Santo António, que se deparou com elevado número de recipientes intactos ou com perfil completo, sendo considerado “de grande interesse e singularidade”.

Esse interesse advém do facto de, até essa descoberta, não haver provas da produção dessas peças em Portugal, sendo classificadas como tendo origem no sul de Espanha as que foram sendo localizadas em naufrágios e trabalhos arqueológicos em diversos pontos do globo.

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Trata-se de “um grupo específico de contentores destinado ao armazenamento e transporte de longa distância, composto por um cantil e 25 anforetas”, contabiliza Ricardo Costeira.

Exemplares idênticos têm sido recolhidos em vários pontos do globo, o que, para o arqueólogo, “é uma prova flagrante da participação e importância de Aveiro nas rotas comerciais da época Moderna”.

“A Terra Nova é sem dúvida o sítio com mais elementos de anforetas conhecidas provenientes de Aveiro, mas alguns naufrágios nas Antilhas, costa africana e até ao Japão, revelam alguns elementos que podem efetivamente ser de Aveiro”, explica Ricardo Costeira.

 As anforetas são recipientes típicos do período de expansão ibérica e eram usadas no transporte e conservação de diversos produtos, a bordo dos navios, sendo regularmente encontrados em naufrágios ou contextos portuários.

Durante muito tempo, arqueólogos e especialistas em cerâmica consideraram-nas como uma produção típica dos séculos XVI a XVIII e exclusiva do sul de Espanha, apesar das frequentes referências escritas encontradas nos livros portuários portugueses dos séculos XVII e XVIII.

“A coleção de 25 anforetas, procedentes de contexto arqueológico seguro, contribui decisivamente para a correta distinção entre objetos portugueses e espanhóis, uma vez que a sua produção em Aveiro não levanta, neste momento, quaisquer dúvidas”, conclui Ricardo Costeira da Silva.

Tanto mais, acrescenta, que “as anforetas de Aveiro distinguem-se facilmente das produções oriundas das oficinas do sul de Espanha que, por norma, apresentam pastas claras e porosas”.

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