Coimbra
“Vamos defender a Académica em Tribunal”
| ENTREVISTA NDC |
Numa altura em que a formação da Académica obteve um feito histórico e na véspera de mais uma Assembleia Geral, Notícias de Coimbra (NDC) quis ouvir Paulo Almeida, o advogado que preside à Associação Académica de Coimbra – Organismo Autónomo de Futebol (AAC-OAF), que respondeu a todas as questões essenciais sobre o passado, o presente e o futuro da Briosa.
PUBLICIDADE
Notícias de Coimbra (NDC): Estamos quase a chegar ao fim da época. Que avaliação faz?
Paulo Almeida (PA): Tem sido um período muito intenso, estimulante em que trabalhei com a direção sempre no limite e em prol da Académica, pois só assim conseguimos debelar as enormes dificuldades associativas, institucionais, financeiras e desportivas. E fizemo-lo praticamente sem ter qualquer margem de erro.
NDC: Mais uma Assembleia Geral esta quinta-feira. É a sexta assembleia geral esta época. Fará um balanço?
PA: A época ainda não terminou. Sempre que entramos em campo temos de dar o nosso máximo e já na sexta, contra o Leixões, não será exceção. Mas esta foi a direção mais escrutinada de sempre. Quase todas as assembleias gerais foram pedidas por nós. Tudo o que fizemos foi feito de forma absolutamente transparente e com autorização da Assembleia Geral. A direção partilhou todas as decisões fundamentais com os sócios. Foram decisões partilhadas. Isso é particularmente importante pois num passado recente não foi assim a que acresce o facto de que desde que chegamos, todas as assembleias gerais foram determinantes para o futuro da Académica.
Académica vai pedir ao anterior Presidente que devolva o dinheiro que ao longo destes 14 anos retirou do clube e que são cerca de 1.8 milhões de euros”
NDC: O que nos pode dizer sobre a acção contra a Académica em que José Eduardo Simões pede 2 milhões à Académica e que está na Ordem de Trabalho da próxima Assembleia Geral desta quinta-feira?
PA: Preferia falar sobre o protocolo com a Direcção Geral que também está da Ordem de Trabalhos. Mas já que pergunta, posso apenas dizer que iremos obviamente contestar a ação. Contudo, no caso do Eng. José Eduardo Simões, põe-se a possibilidade de poder ser este o momento e o meio próprio de a Académica pedir ao anterior Presidente que devolva o dinheiro que ao longo destes 14 anos retirou do clube e que são cerca de 1.8 milhões de euros.
NDC: Mas é preciso uma Assembleia Geral para isso?
PA: Não é todos os dias que um Presidente de um clube que o atirou para a Segunda Liga, ainda o tente fechar em Tribunal! E esta direção vai defender os interesses da Académica. É isso que irei explicar aos sócios.
NDC: Está seguro de que a Académica nada deve a José Eduardo Simões?
PA: Depois de ter ido levantar o processo crime ao Tribunal e de o ter lido de fio a pavio, estou convicto – tal como o Tribunal que o condenou está – não só que a Académica nada deve a José Eduardo Simões como é José Eduardo Simões que deve à Académica.
A reestruturação desportiva através do processo de despedimento colectivo e a reestruturação da dívida fiscal com a adesão ao PERES, permitiram-nos estar a fazer a época com grande sacrifício”
NDC: Mas afinal como está a Académica?
PA: Temos neste momento uma auditoria a decorrer, que deverá está concluída antes do fim do mês, que nos dará dados mais detalhados.
A reestruturação desportiva através do processo de despedimento colectivo e a reestruturação da dívida fiscal com a adesão ao PERES, permitiram-nos estar a fazer a época com grande sacrifício.
A Académica ainda tem como principais activos imobiliários o pavilhão Jorge Anjinho, a Academia e também tem a concessão do Estádio Cidade de Coimbra.
A situação financeira sendo hoje melhor do que quando chegamos é ainda assim muito delicada.
NDC: A venda da antiga sede não ajudou a melhorar a situação?
PA: A venda da antiga sede dos arcos, aprovada pelos sócios em Assembleia Geral, permitiu que financiássemos o clube uma vez que mal chegamos comprometemos grande parte da receita esperada para fazer face a compromissos de cerca de um milhão de euros que a anterior direção nos deixou e sem a qual não poderíamos sequer inscrever a equipa na segunda Liga. Permitiu ainda que adotássemos uma outra medida estruturante para a Académica que já assinalei: a reestruturação da dívida fiscal, aderindo ao PERES. Isso permitiu ainda mantermos a propriedade do pavilhão Jorge Anjinho e da Academia do Bolão, e nesta última ainda conseguimos fazer melhoramentos. E relembro que ainda podemos readquirir a antiga sede dos arcos nos próximos 2 anos.
NDC: O Pavilhão Jorge Anjinho tem alguma utilidade ?
PA: O Pavilhão Jorge Anjinho tem valor simbólico além de valor patrimonial. É claro que a sua nave central precisa de ser requalificada para lhe ser dado uso pela cidade e pelos sócios da Académica. Contudo, em 14 anos de primeira divisão o que se fez foi nada. Deixaram-no ao abandono. Agora das duas uma: ou o entregamos a um parceiro, público ou privado, que tenha interesse na sua exploração desportiva sendo a Académica devidamente compensada por isso. Ou esperamos melhores dias para podermos ser nós a requalificar.
NDC: E a Academia do Bolão?
PA: Mesmo em circunstâncias muito difíceis como as que são conhecidas conseguimos investir na Academia, dotando-o de melhores condições. Houve um investimento da iluminação artificial de dezenas de milhares de euros, requalificaram-se quartos e balneários e a zona de recuperação dos jogadores (piscinas e banhos ) foi toda revista e posta a funcionar. Tudo em benefício do futebol profissional e da formação. E com resultados à vista já está época.
NDC: Essa aposta na formação é para continuar?
PA: Temos sete jogadores juniores inscritos que podem ser opção na equipa sénior. O Vidigal, o Leandro e o João Simões têm sido chamados à equipa principal. Os nossos jogadores de formação têm ido à seleção nacional. E muito importante, as nossas camadas mais jovens, iniciados, juvenis e juniores estão a fazer uma época excecional. Dissemos que íamos apostar na formação e apostámos. Este trabalho forçosamente deverá ter continuação.
Temos jogadores da formação na equipa principal, 6 jogadores internacionais entre os “sub 17 e os sub 19”, o Rui Rua, André Vidigal, Leandro Cardoso, Nuno Esgueirão e o Simão França…”
NDC: Quais os pontos altos deste primeiro ano de mandato?
PA: Do ponto de vista da emergência financeira, o despedimento coletivo e a reestruturação da dívida fiscal. Do ponto de vista associativo, maior transparência, ligação à Universidade, à cidade e às Instituições, públicas e privadas. Do ponto de vista desportivo, a chegada aos quartos de final da Taça e a luta pelos primeiros lugares da 2.ª Liga até ao fim (o campeonato ainda não acabou e podemos subir ainda na classificação) e uma aposta na formação que se traduzem nos resultados nas camadas jovens de formação da Académica. Temos jogadores da formação na equipa principal, 6 jogadores internacionais entre os “sub 17 e os sub 19”, o Rui Rua, André Vidigal, Leandro Cardoso, Nuno Esgueirão e o Simão França. E hoje com a passagem dos sub-17 à fase final do campeonato, fizemos história. Temos todas as equipas da nossa formaçãona fase final do campeonato! O que só nos pode augurar boas perspetivas de futuro.
NDC: Já agora porque é tão discreto no que diz respeito ao futebol profissional? Porque foi sempre o Vice-Presidente que apresentou as contratações? E quanto ao futuro do Costinha? Chegou a estar em causa a sua permanência como publicaram a Bola e o Record?
PA: Apesar de eu coordenar a direcção, cada diretor tem os seus pelouros. No caso do futebol, como todos sabem desde a campanha eleitoral, Pedro Roxo é o responsável pelas opções propostas quanto à equipa profissional de futebol. E obviamente as decisões foram partilhadas por toda a direção e por mim em particular que falo todos os dias com ele. Quanto ao Costinha foi contratado no inicio da época e logo na campanha já se sabia que seria o nosso treinador. O Costinha sabia bem as dificuldades da Académica e os pressupostos da sua contratação. E também sabe que da nossa parte nunca lhe faltou nada, aliás como o próprio sempre reconheceu em todas as intervenções que publicamente fez. Nunca percebi sequer essas noticias maldosas publicadas numa altura chave da época pelo Record e pela Bola até porque esses jornais nunca falaram comigo. E bastaria terem-me perguntado, como fizeram os jornais da cidade. E fizeram bem pois estavam a ser enganados. Simples.
Mas o mais importante é que a Académica mesmo com as dificuldades conhecidas, cumpre os pressupostos da Liga. Se não o cumprisse, podia perder 6 pontos. Ou seja, o plantel de futebol tem hoje a situação regularizada perante a Liga. O que, no ano passado, na primeira Liga e com receitas muito mais elevadas, foi uma ameaça sempre presente.
Num negócio onde há muita gente sem escrúpulos, julgo que conseguimos neste primeiro ano driblar devidamente os principais obstáculos”
NDC: E quais os pontos negativos?
PA: A confirmação de que o anterior Presidente, José Eduardo Simões, tudo tem feito para tentar acabar com centenária Instituição.
Admito ainda que nós enquanto direcção possamos ter cometido alguns erros. Mas não os julgo significativos face à pesada herança com que nos deparámos. Num negócio onde há muita gente sem escrúpulos, julgo que conseguimos neste primeiro ano driblar devidamente os principais obstáculos.
NDC: Quem o ouça falar, parece que em menos de um ano está tudo feito?
PA: Não. Ainda há muito por fazer. Mas quantas pessoas acreditavam ser possível, no início da época, chegarmos a esta fase financeiramente melhor, chegar aos quartos de final da taça e ser um dos quatro ou cinco clubes que lutam pela subida de divisão? E nos escalões jovens sermos uma referência, alcançando as fases finais, e colocando jogadores na equipa sénior a jogar com regularidade? Claro que ainda é necessário continuar com a profunda reestruturação do passivo do clube e profissionaliza-lo, ainda que salvaguardando as especificidades da Académica.
Como a situação financeira ainda é débil tal só pode ser feito através dos instrumentos jurídicos que ainda temos disponíveis pois ao contrário de outros clubes – mesmo da primeira Liga, como Setúbal e Belenenses que estão em PER ou em SIREVE, como o Boavista, nós ainda não recorremos a nenhum destes instrumentos. Outra hipótese é havendo um investidor, recorrer ao mesmo, ainda que isso implique um novo figurino da Académica.
Num caso como noutro a Académica precisa sempre de liquidez que lhe permita fazer face a uma reestruturação. A grande vantagem hoje é que para fazer essa reestruturação é preciso muito menos dinheiro do que quando começamos há um ano.
NDC: E esses investidores existem?
PA: Existem e hoje a Académica é um clube respeitado e desejado.
NDC: Qual a relação com os demais agentes do futebol?
PA: Tivemos uma participação muito ativa nas questões que dizem respeito ao futebol português. Na Assembleia da República, onde fomos o único Clube a ser ouvido pela Comissão que está a rever a lei. Na Liga onde fizemos propostas, como por exemplo o playoff de acesso à primeira Liga, e integramos activamente os grupos de trabalho constituídos. A relação com os demais clubes é ótima e pode ser potenciada.
NDC: E com a Câmara Municipal de Coimbra?
PA: Temos estimulado e lançado desafios à Câmara – desde a realização de eventos culturais com outras Instituições da cidade no Convento S. Francisco, até à expansão do Bolão passando pela possibilidade de cedermos o uso do Pavilhão Jorge Anjinho também à cidade. Mas ainda não obtivemos qualquer reposta.A Câmara de Coimbra, tal como noutras cidades, poderia ter um papel determinante, juntando sinergiascom um dos símbolos da cidade, pois a Câmara tem os instrumentos para o efeito. É assim em Lisboa, Porto, Braga e até Portimão. Mas a Câmara de Coimbra parece contemplativa e até conformada. E nós na Académica, não.
NDC: Daquilo que vemos a tarefa tem sido extenuante, ao ponto de estar hoje visivelmente mais magro e aparentemente cansado. Tem-se justificado e o ritmo é para manter?
PA: Como lhe disse, tem sido um período muito intenso que exige o máximo de todos.
Related Images:
PUBLICIDADE