Coimbra
Absentismo na saúde com valores anómalos revela falta de motivação
O absentismo no setor da saúde tem registado valores “muito anómalos” para o próprio setor, afirma o presidente da Associação dos Administradores Hospitalares, considerando que este número não seria tão elevado se os profissionais estivessem motivados.
Outro problema que está a afetar o setor é a “grande conflitualidade profissional” que se está a viver nos hospitais, suscitada pelas greves, por “algum mal-estar” dos profissionais e por “alguma animosidade perante a ação governativa”, disse, em entrevista à agência Lusa, o presidente da Associação Portuguesa dos Administradores Hospitalares (APAH), Alexandre Lourenço.
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Para Alexandre Lourenço, a desmotivação dos profissionais reflete-se no nível de absentismo que “está praticamente em 12%, o que é muito anómalo para o próprio setor”.
“Se tivéssemos trabalhadores motivados não teríamos um absentismo tão elevado”, defendeu.
Dados do Relatório Social do Ministério da Saúde indicam que as faltas ao trabalho dadas pelos profissionais de saúde totalizaram quase 3,8 milhões de dias em 2017, mais 2,4% do que no ano anterior, a maioria devido a doença (46,3%), mas também às greves no setor.
As ausências ao trabalho por motivos de greve totalizaram 120.886 dias, representando o maior aumento face ao ano anterior (76,6%), destaca o documento, que observa ainda um acréscimo de 26,3% das faltas injustificadas, que somaram 21.048 dias, mais 4.379 dias face a 2016.
O presidente da associação sublinhou que a “grande conflitualidade profissional, laboral” que se está a viver nos hospitais é “mais grave” do que as questões de atividade e do acesso aos serviços de saúde.
“É muito atípico observar esta animosidade dentro das organizações, uma vez que os salários foram repostos, houve aumentos líquidos de salários, houve uma redução dos horários de trabalho”, mas quem está nos hospitais percebe o que se está a passar e quais os motivos.
“Não é estranho para quem está dentro das organizações, porque as condições de trabalho deterioram-se a partir do momento em que temos menos profissionais e que existe uma procura muito maior de cuidados de saúde e a expectativa dos doentes e das famílias são cada vez mais crescentes”, sustentou o presidente da APAH.
Na sua opinião, estes problemas deviam ser resolvidos localmente pelos hospitais, mas a falta de autonomia dificulta-lhes essa intervenção.
“Os hospitais hoje, pela falta de autonomia, têm alguma dificuldade em resolver estes problemas e dar respostas concretas aos seus profissionais”, sendo que estas “questões de recursos humanos se gerem, essencialmente, localmente”, sublinhou Alexandre Lourenço.
Para o presidente da associação, é necessária “uma estratégia de gestão de recursos humanos mais efetiva, mais ponderada, em que os profissionais também são responsabilizados pela gestão das organizações e pelos resultados alcançados”.
“Não podemos ter as organizações representativas dos profissionais de uma forma quase de treinadores de bancadas sem ser responsabilizados pelo que se passa nas organizações”, vincou.
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