Opinião
A verdade da mentira
O Presidente da Câmara Municipal de Coimbra, tem muito tempo livre. Não deveria ter, devido ao cargo que ocupa. Mas pela dedicação em estar presente nas redes sociais, assim como em escrever artigos de opinião nos jornais locais, efectivamente tempo desocupado é coisa que não lhe deve faltar.
Isto a propósito do seu longo artigo de opinião, publicado no dia 20 de Fevereiro, no Diário “As Beiras”.
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Num estilo que lhe é característico, ataca o passado, culpabiliza toda a gente, e glorifica-se, denominando de “mentirosos” e acusando de “falta de seriedade”, a alguns políticos nacionais e locais.
Desde logo, fica mal, demonstrando, na minha visão, total falta de sentido de estado ou governativo, que o Presidente de um qualquer organismo político público, ou órgão de soberania, se dedique a escrever artigos de opinião enquanto decorre o seu mandato.
Depois, e começando a analisar o escrito, indica uma preocupação desmedida com a descida de Coimbra em termos comparativos nacionais, no índice de população residente.
Sabendo-se que a maioria das cidades que ultrapassaram Coimbra, são todas na área metropolitana de Lisboa e Porto, será que pretende que Coimbra seja um Barreiro, uma Amadora, uma Odivelas, uma Vila Nova de Gaia? Cidades estas com uma qualidade de vida, em vários aspectos, pouco atraente? Eu não….e acredito que os coninbricences também não. Mas o Senhor Presidente parece que sim. Talvez uma vivencia nestes locais lhe fizesse bem, para saber do que fala.
Depois atira-se á bancarrota de 2011, e pelo governo do PS dessa altura ter chamado a Troika. Esquece-se que isto apenas aconteceu, porque foi chumbado no parlamento o PEC IV, que evitaria a vinda desse malfadado auxílio exterior. A memória faz falta.
Não contente com já ter escrito isto, vem maldizer as contas certas do estado. Não sem posteriormente se contradizer, indicando que foram outros, que não o PS, que seguidamente reequilibraram as contas. Ora afinal as contas certas, na versão do Presidente, são necessárias, mas só na parte que convém. Daí agora eu entender as contas da Câmara Municipal de Coimbra por si apresentadas…
Continuando para bingo, vangloria-se de várias outras coisas: fixação de novas empresas com criação de postos de trabalho. Sabendo-se que a última empresa que criou postos de trabalho em número relevante em Coimbra foi a Olympus (negociada e instalada no anterior executivo), e que nos últimos dois anos o número de inscritos no Centro de Emprego de Coimbra aumentou, a verdade é como o azeite, vindo sempre ao de cima.
Escreve sobre o concerto dos Coldplay, que em meia dúzia de dias, trouxe um fluxo financeiro e populacional extraordinário a Coimbra. Sem dúvida. Não fala do montante dispendido pela Câmara para que tal sucedesse. Nem fala dos concertos anteriormente ocorridos dos Rolling Stones, U2, George Michael, Madonna e Andrea Bocelli, só para relembrar, que obviamente trouxeram os mesmos benefícios á cidade, mas sem o colossal investimento camarário que agora se verificou.
Critica as obras que deveriam ter sido feitas há 30 anos, esquecendo-se que ao escrever isto afecta, igualmente, dois Presidentes de Câmara do PSD – um partido que o sustenta – não referindo que essas obras estão a ser realizadas agora, mas já estavam negociadas e formalizadas anteriormente á sua chegada á governação municipal. E demoraram anos de trabalho a outros (PS e PSD), que não o actual Presidente, para que se concretizassem.
Continua falando da renovação da frota dos SMTUC, que não foi por si iniciada. Fala da renovação das escolas, que não foi por si negociada nem iniciada. Fala da construção de fogos do programa “1º Direito”, programa este lançado pelo governo que tanto critica, e que, localmente, já estava sinalizado para intervenção municipal.
E ainda refere a TUMO, uma iniciativa privada, em que a Câmara pouco mais terá feito que cortar a fita na inauguração, não sem antes lá ter enterrado umas centenas de milhares de euros.
Só não escreve sobre umas coisas: o caos em que colocou a cidade ao autorizar obras estruturais feitas em simultâneo, a falta total de transparência na questão da cedência gestionária da “Casa da Escrita”, o desnorte absoluto na política cultural municipal, o absoluto silêncio sobre a construção de um aeroporto na região centro, que apenas demonstra não o pretender, entre outros assuntos.
Pois é…muita parra e pouca uva, diz o povo. Muito populismo, e pouca execução própria, digo eu.
Faria melhor, certamente, em dedicar-se ao trabalho e não a opinar publicamente.
Mas, tal qual escreve, “ (…) os candidatos a mágicos são todos falsos (…)”. Concordo consigo.
OPINIÃO | NUNO MATEUS – JURISTA
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