Opinião
A sustentabilidade que temos que ter (2)
ANTÓNIO MAGALHÃES CARDOSO
A sustentabilidade, em Portugal como em qualquer outro país, deve ser vista da forma mais alargada possível. O próximo período de programação (2014-2020) exige um rigoroso compromisso de sustentabilidade das políticas públicas, entendidas como políticas integradas, integradoras e de banda larga.
As cidades/comunidades urbanas estão a prestar progressiva atenção à necessidade de obtenção de consensos alargados, consistentes e duráveis, que levam a um planeamento colaborativo. Os processos mais participados têm muito maior probabilidade de produzir melhores decisões, conduzindo a maior resiliência das cidades. O planeamento urbano deve integrar progressivamente as preocupações sociais, as necessidades de biodiversidade e as medidas de preservação dos sistemas ambientais. Esta integração, conjugada com as vantagens decorrentes da maior participação dos cidadãos nos processos decisórios, leva à exigência de uma muito maior cultura ambiental, como pilar fundamental da cidadania. Os sistemas sociais e ecológicos são altamente interdependentes em áreas urbanas, obrigando a conceber novos mecanismos, que assegurem a transição rumo a uma cidade mais resiliente (Collier, 2013).
Os instrumentos de política pública cofinanciados pelos Fundos Estruturais e de Investimento Europeus – como se reconhece num documento de trabalho do Governo – devem permitir impulsionar a nossa competitividade, respeitando a conformidade com as metas ambientais traçadas. Este equilíbrio entre um crescimento de assegure a criação de emprego e de riqueza para os cidadãos e a garantia de um “futuro sustentável e de baixo carbono” é a chave do sucesso.
O desenvolvimento sustentável comporta: (a) a eficiência de recursos (envolvendo o ciclo da água, a eficiência energética e a produção de energias renováveis, as estratégias de baixo carbono, as pescas, a aquicultura e os recursos marinhos, a agricultura, a floresta e as políticas urbanas); (b) a proteção do ambiente (que por sua vez engloba ar e ruído, a poluição da água, os passivos ambientais, a biodiversidade, os ecossistemas e a gestão de resíduos); (c) a prevenção e a gestão de riscos (incluindo a adaptação às alterações climáticas, os recursos hídricos, a defesa da zona costeira, a valorização do litoral e a prevenção e a gestão de riscos naturais e tecnológicos).
Nesta matéria, como em tantas outras, temos um longo caminho a percorrer. Não se pense que, por sermos um pequeno país periférico, com uma economia frágil e deprimida, não temos problemas ambientais graves. A título de exemplo, atentemos no seguinte diagnóstico: “apesar da significativa redução da intensidade carbónica do PIB (de 652 tCO2e/euro em 1990 para 521 tCO2e/euro em 2010), (…) Portugal apresenta valores superiores à média Europeia (386 tCO2e/euro na UE15 em 2010; 450 tCO2e/euro na UE27 em 2010)” (in documento de trabalho referido). Somos um país de gente que trabalha, mas trabalhamos de forma pouco eficaz e pouco eficiente, delapidando recursos: em suma, não temos vindo a assegurar a nossa sustentabilidade, nas suas diversas e interligadas dimensões.
Parece-me imprescindível que reforcemos duas preocupações. Uma primeira tem a ver com o papel que deve estar reservado à sensibilização e à educação para a sustentabilidade. Se queremos conquistar os cidadãos para este combate pelas soluções sustentáveis, temos que reconhecer a necessidade de formar/capacitar e aperfeiçoar consciências de cidadania. É importante participar, mas é fundamental que as pessoas percebam onde estamos, o que queremos e como vamos lá chegar. Outra preocupação decorre da particular atenção que as dimensões urbanas das políticas para a sustentabilidade devem merecer, uma vez que a concentração nas cidades vai acentuar-se. Assim, preconiza-se a afirmação da sustentabilidade urbana como uma componente essencial no âmbito do crescimento sustentável. Para a concretização dos objetivos de regeneração urbana, o relatório governamental considera que deverão ter caráter prioritário as áreas de reabilitação urbana. Neste domínio, solicito aos leitores o reconhecimento de que Coimbra estará no caminho certo, por possuir neste momento 3 áreas de reabilitação urbana com operações aprovadas, cobrindo a área central da margem direita da Cidade.
O recente Relatório para o Crescimento Sustentável, Uma visão pós-troika, da Plataforma para o Crescimento Sustentável, interpela-nos com 27 desafios estratégicos (5 dos quais especificamente sobre sustentabilidade) e mais de 500 recomendações. Desse relatório, retiramos a afirmação de que “é hoje relativamente consensual ser mais do que improvável o sucesso do desenvolvimento sustentável sem o envolvimento da sociedade civil”, na linha do que defendemos. Aí se preconiza uma transição inclusiva e socialmente responsável para uma economia verde, descarbonizada e a obtenção de territórios progressivamente resilientes (capazes de se adaptarem, por antecipação ou por recuperação, às inevitáveis mudanças).
A boa notícia é que se verifica um alinhamento entre os domínios em que devemos apostar nos dois relatórios (o documento de trabalho do Governo e o relatório da Plataforma) e, já agora, no projeto de Plano de Ação Regional 2014-2020 para o Centro de Portugal, apreciado pelo Conselho da Região e para consulta pública. Vamos ao caminho, que a jornada é longa e dura!
ANTÓNIO MAGALHÃES CARDOSO
Related Images:
PUBLICIDADE