Opinião
A nostalgia dos verões televisivos olímpicos e as lágrimas dos atletas
É verdade que a magia dos Jogos Olímpicos resulta também da sua relativa excecionalidade, sendo realizados apenas de quatro em quatro anos, mas a emoção particular deste grande evento faz-me desejar que todos os verões fossem verões olímpicos. Uma das memórias mais antigas que tenho, aliás, é de passar as férias grandes ‘colado’ à televisão, em particular naqueles anos em que se sucediam a Volta a Portugal, a Volta a França e as Olimpíadas
Podem imaginar, portanto, a nostalgia que me tem provocado o verão de 2024, ainda para mais sendo possível, hoje em dia, acompanhar ainda mais provas e modalidades distintas. É certamente inexplicável o que me leva a assistir aos concursos da ginástica artística, quando o espanto por alguém ser capaz de executar aqueles movimentos só se compara à minha incapacidade de perceber se um exercício foi ou não bem executado – parecem-me todos merecedores de nota máxima. E, no entanto, aqui estou, maravilhando-me com os saltos na trave ou as transições nas barras assimétricas. E o mesmo vale para os saltos para a água ou a natação sincronizada, a canoagem ou o ciclismo, a esgrima ou o levantamento do peso (confesso que traço a linha em modalidades como o skate e o breaking, mas talvez nuns próximos Jogos me consiga habituar a elas).
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Claro que nada se compara às grandes jornadas do atletismo, que devem obrigatoriamente ser acompanhadas na RTP: ver em direto a final dos 100 metros da competição deste ano foi uma experiência emocionante pelo facto de os dois primeiros terem terminado com o mesmo tempo, mas também porque os comentários de Luís Lopes transformam absolutamente tudo num momento histórico! Não me lembro de ver atletismo sem a sua voz em fundo, mas não é só de nostalgia que vos falo: a forma como equilibra emoção e rigor, como é capaz de passar informação sobre atletas e provas sem ser enfadonho ou parecer presunçoso, é bem um modelo que devia ser seguido por comentadores de outras modalidades.
Se destaco o especialista do canal público, é porque comentários assim, espécie de legenda que acrescenta ao que está perante os olhos mas não bloqueia a visão, tornam mais fácil focarmo-nos no verdadeiro valor do desporto. Tocam-me muito particularmente as lágrimas dos atletas, brilhantes sob as luzes dos pódios ou empalidecidas pela dureza do insucesso, mas em qualquer circunstância carregando uma intensidade emocional que transcende a mera competição. Elas são o reflexo de horas incontáveis de treino, de uma dedicação inabalável e de enormes sacrifícios pessoais, muitas vezes em condições adversas, seja a pouca valorização das respetivas modalidades ou contextos externos tão duros como a guerra.
Uma vitória pode ser um momento culminante de superação, mas uma derrota pode sê-lo no mesmo grau. E uma derrota pode ter tanto o sabor do insucesso como da certeza das barreiras ultrapassadas.
As lágrimas da judoca portuguesa Rochele Nunes ao lembrar a morte recente do irmão não são assim tão diferentes das do tenista sérvio Novak Djokovic após conquistar o único título que lhe faltava ou da jogadora de badminton espanhola Carolina Marín depois de se lesionar quando tentava apurar-se para a final. Todas são uma demonstração de que o verdadeiro valor do desporto não reside apenas nas medalhas, mas no caminho percorrido.
Porque o desporto, na sua essência, celebra a força do espírito humano, através de valores como a perseverança, a coragem e a paixão. Talvez seja por isso que tenho a certeza de que, por esta altura em 2028, vou ter o televisor sintonizado nos Jogos Olímpicos de Los Angeles.
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