Opinião
A morte do pensamento crítico
A escola onde eu estudei ensinou-me as disciplinas básicas e o significado do conhecimento. Muito do que aprendi apliquei no meu dia a dia, conforme a relevância que eu tinha no mundo. A escola é um espaço comum no passado de muitas pessoas, e o conhecimento é um território possível, almejado, preservado e constantemente atualizado sem a custódia dos tempos verbais.
O futuro para mim está intrinsecamente ligado ao conhecimento. A evolução, que acompanhamos a olho nu, é um grande ecrã, que conta a história, só possível, porque um dia nos ensinaram no banco da escola, além do cálculo e da gramática, a importância de sonhar.
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A consonância da passagem dos séculos, da existência humana e do cordão genético que liga tudo, contribuiu para que o homem pisasse na Lua em 1969, e antes disso, que Hiroshima fosse destruída por uma bomba atómica, na Segunda Guerra Mundial (1945).
O futuro é o que se vê e o que se tem em mãos. Metaforicamente é uma casa com todas as passagens abertas: portas, janelas, televisão, telemóvel e espelhos. Conheço muitas pessoas que ainda esperam pelo futuro, enquanto há muita gente usufruindo dele. Mas o que acontecerá no futuro que não esteja já a acontecer?
Para responder à pergunta, talvez, o conhecimento não baste sem a ajuda do discernimento. Já ultrapassámos há muito o limite da ética. Na atualidade, a escassez de diálogo e a truculência, em direto nas redes sociais mostram-nos que é quase impossível regenerar alguns comportamentos inaceitáveis, que funcionam como espelho para uma sociedade desorientada sobre o que é certo ou errado.
A liquidez do nosso estado de espírito é uma imagem perfilada de rostos tristes com o entusiasmo gerado pela inteligência artificial (IA). No meu entender, o que alimenta o futuro é a sede, a igualdade, a curiosidade e a justiça. Na ausência destes elementos, o futuro é esse que se apresenta, um cenário monumental de ostentação, vulgaridade e esvaziamento moral.
O senso crítico não é percecionado como dantes, e os que pensam, também, não. O futuro, agora, parecer ser a continuidade dos erros e a afirmação ditatorial cada vez mais expressiva no mundo. Assim, cresce uma onda sobre os mortais, única, onde a expetativa possível é fazer parte da massa.
OPINIÃO | ANGEL MACHADO – JORNALISTA
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