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A Guerra Colonial na Literatura e no Cinema Português em destaque na Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra

A Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra promove esta semana uma nova edição do Ciclo Flor de Lótus, com apresentação de extratos fílmicos alusivos à guerra colonial portuguesa, selecionados e comentados por Jorge Seabra. Simultaneamente, está patente uma exposição bibliográfica sobre o mesmo tema, organizada por Maria Luísa Sousa Machado e José Mateus (BGUC), na Sala do Catálogo. O acesso às iniciativas é livre.
A segunda edição do Ciclo Flor de Lótus decorrerá nos dias 18 e 19 de outubro, terça e quarta-feira, às 18h00, na Sala de São Pedro da Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra, com um programa de exibição de extratos fílmicos alusivos à guerra colonial portuguesa selecionados e comentados pelo especialista Jorge Seabra. Devido à lotação limitada da sala, é necessária a inscrição prévia para assistir, através do formulário disponível aqui, ou com envio de email para bg-eventos@bg.uc.pt. A entrada é livre.
O filme selecionado para o primeiro dia, 18 de outubro, foi «A Costa dos Murmúrios» (Portugal, 2004. Realização de Margarida Cardoso), uma adaptação do livro de Lídia Jorge, que será o bom pretexto para descobrir um olhar feminino sobre a Guerra Colonial. Na quarta-feira, o tema será debatido a partir do filme «Purgatório 20’13» (Portugal, 2006. Realização de Joaquim Leitão), cujo título alude a um versículo da Bíblia que estará na origem de um dos mistérios da história apresentada.
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Jorge Seabra é Professor Auxiliar convidado na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, na área de Estudos Artísticos (Cinema, História, Estética). Licenciado em História e especialista na Época Contemporânea, é doutorado em Estudos Fílmicos. É membro da Associação de Investigadores da Imagem em Movimento e da Comissão Científica do Festival de Cinema de Avanca. Os seus interesses incidem sobre o cinema, o discurso do poder na Primeira República e no Estado Novo, o império colonial, multiculturalismo e identidades.
A BGUC surpreende mais uma vez os seus visitantes com uma nova exposição bibliográfica na Sala do Catálogo. Desde 13 de outubro, é possível visitar «A Guerra Colonial na Literatura Portuguesa».
A insurreição ocorrida em Angola, a 15 de março de 1961, nos distritos do Zaire, Uíje e Quanza-Norte, marca o início da Guerra Colonial, um conflito que se arrastou durante 13 longos anos e que só veio a terminar na sequência da revolução de 25 de Abril de 1974.
A eclosão da guerra, da responsabilidade da UPA – União das Populações de Angola, comandada por Holden Roberto, tinha como objetivo fazer frente ao domínio colonial imposto pelo regime português. A sua génese foi inspirada pelo fenómeno independentista que, entretanto, se desencadeara nas colónias vizinhas, até então sob domínio de países europeus, e do qual sofreu forte influência.
Sobre a Guerra Colonial, ou Guerra do Ultramar, mesmo antes do 25 de abril de 1974, foram publicadas inúmeras obras literárias, que, nas palavras de Rui de Azevedo Teixeira (1998), surgem «numa perspetiva do regime, da portugalidade e do Luso-Tropicalismo». Exemplo disso são as obras de Fernanda de Castro, Pedro Homem de Melo ou António Manuel Couto Viana, entre outros. No entanto, ainda durante este período, alguns autores como José Correia Tavares, em 1967, Casimiro de Brito, em 1966, e, anos depois, Álvaro Guerra, Fernando Assis Pacheco e José Bação Leal publicaram algumas obras de sinal contrário, já no período marcelista.
É obviamente depois de 1974 que se assiste à publicação de um grande número de obras literárias (e de outros géneros) sobre este tema.
Nesta exposição encontram-se patentes obras representativas dos mais conceituados escritores portugueses que basearam os seus romances, os seus contos e as suas histórias na temática da Guerra Colonial, ou porque a viveram ou porque a ela assistiram e escutaram relatos de outros intervenientes. Do lado português, Manuel Alegre, António Lobo Antunes, Mário de Carvalho, Lídia Jorge e João de Melo, entre outros; José Craveirinha, Pepetela ou Arlindo Barbeitos, entre os escritores angolanos e moçambicanos que, a par de outros nomes menos conhecidos, não deixaram de transmitir, com a sua perspetiva e intensidade, aquilo que a guerra colonial representou no âmbito da literatura portuguesa.
18 OUT terça-feira 18h00
A COSTA DOS MURMÚRIOS
Portugal, 2004. Realização de Margarida Cardoso
O filme de Margarida Cardoso é uma adaptação livre da obra homónima de Lídia Jorge. Evita (Beatriz Batarda) chega a Moçambique no final dos anos 60 para casar com Luís (Filipe Duarte), que ali cumpre serviço militar como alferes, constatando que o seu noivo está diferente do estudante que conhecera.
Na busca de tentar perceber as mudanças operadas, descobre que o capitão Forza Leal (Adriano Luz) é uma personagem chave, quer pela influência que exerce no seu noivo, quer pela forma como o superior hierárquico de Luís trata a esposa (Mónica Calle).
Neste processo, assistimos ao desmoronar de um tempo, e ao efeito devastador que exerceu sobre as pessoas que para ele foram arrastadas, onde a violência, a culpa e a perda marcam presença regular.
19 OUT quarta-feira,18h00
20,13 PURGATÓRIO
Portugal, 2006. Realização de Joaquim Leitão
No norte de Moçambique, na véspera de Natal de 1969, um grupo de soldados portugueses, comandados pelo alferes Gaio (Marco D’Almeida), regressa à base com um prisioneiro.
Leonor (Maya Booth), a esposa do capitão (Adriano Carvalho), surge inesperadamente no aquartelamento para passar a consoada com o marido, adivinhando-se uma relação tensa entre ambos. A acrescentar a esta visita inesperada, a base militar é bombardeada durante a noite e um militar português e o prisioneiro são assassinados.
O mistério destes crimes será esclarecido durante a noite pelo alferes Gaio, emergindo uma questão condenada pela Igreja Católica e pelo Estado Novo, da qual resulta uma ideia nuclear que o realizador pretende expor. Esta consiste no facto de Gaio e o capitão cumprirem os seus deveres militares, não obstante o primeiro participar numa guerra em que não acredita e o segundo (que é quem resolve o problema do bombardeamento) ser uma personagem que carrega uma angústia existencial sem solução naquele tempo.
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