Opinião
A extravagância faraónica do Natal
O aniversário de Jesus da Nazaré está ali ao virar da esquina. A efeméride exige que, ano após ano, a forma de o festejar ganhe proporções cada vez mais faraónicas. Parece que Jesus merece mais do que aquilo que realmente foi o merece.
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Quando faço anos, recebo umas mensagens daquelas que se enviam a todas a gente e, aqui e acolá, sou identificado num InstaStory qualquer, através de uma fotografia com alguns anos em cima. Mas Jesus não! A ele é dedicado todo o tempo do mundo. Parece que toda a gente entra num hipnotize burlesca e com pouco cabimento.
Pessoas há que, manuseadas por um corrupio e alarido natalícios altamente desproporcionais, e essencialmente televisivos, mergulham nesta temporada do ano como sendo “a época com mais magia e cor e harmonia e felicidade” que a Humanidade poderá sentir.
Há quem monte o pinheiro no início de novembro, como se a felicidade das pessoas dependesse de uma árvore de Natal envolta em uma ou duas centenas de luzinhas pisca-pisca que reflectem na sala de estar o cenário luzidio de uma discoteca. E Jesus não era muito dessas coisas. Primeiro, porque terá nascido dentro de uma espécie de caverna, deitado num fardo de palha e rodeado por gado.
Nasceu sem condições, exactamente como algumas pediatrias deste país, num espaço sem condições, como grande parte dos quartos e casas que os estudantes académicos e professores arrendam por 500 ou 1000 euros por mês. Adiante.
Parece que o Natal chega cada vez mais cedo. São as lareiras, o Sozinho em Casa e o Ambrósio e a Senhora. É aquele hipopótamo fêmea e fisicamente robusto. É a Vodafone que até 25 de dezembro se preocupa com a saúde mental da malta. É a família, as conversas em família e a as conversas sobre mortes e partilhas que as conversas em família acarretam. São umas mensagens automáticas quaisquer de pessoas que não sabemos quem são. Elas vivem-no. Mergulham no que dizem ser o verdadeiro espírito da época, seja lá o que isso, e andam com sorrisos parvos nas semanas que antecedem ao Natal.
Grande percentagem das montras de lojas são adornadas de tal forma ao ponto de não haver espaço para mais nada: são presépios, são pinheiros, são renas, trenós e reis Magos; é neve artificial, luzinhas, estrelas e anjos com caras de deficiente; são dinossauros de peluche, duendes, teleféricos e aviões de com barretes de Pai Natal
.
Tudo ali ao monte, como se de uma mega orgia se tratasse. E antes fosse assim, uma orgia. A paz era mais sã, o ambiente exigido para se seguir à risca o que é imposto ficaria menos pesado, a harmonia genuína seria uma realidade. Mas não. É preferível viver a data envolvo de um clima a roçar aquele que é vivido nos jantares de aniversário da Cleópatra ou das filhas da Luciana Abreu.
Abraço, Jesus! Não ligues!
Pedro Nuno Marques
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