Opinião

À Beira-Mar, voam cavacas!

OPINIÃO Pedro Nuno Marques | 11 meses atrás em 11-01-2024


É no bairro da Beira-Mar, em Aveiro, onde, por estes dias, tudo acontece, é um facto. As festas em honra a São Gonçalinho principiam esta semana e arrastam-se durante seis dias e seis noites. E não é necessário ser-se religioso para ser-se devoto do “nosso menino”, como popularmente é conhecido Gonçalo de Amarante, o mesmo que terá criado, há muitos séculos, amizades com os nativos que viviam naquele que hoje é o bairro da Beira-Mar, o mais típico e pitoresco da cidade de Aveiro.

É no largo da capela de São Gonçalinho, paredes-meias com a ria, salinas e Praça do Peixe, onde as massas se concentram a fim de sacar o maior número de cavacas possível.

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“Porra, isto parece a terceira guerra mundial”, confessava-me uma amiga em anos anteriores. Do cimo da capela, são cumpridas promessas: arremessam-se cavacas a “torto e a direito”, toneladas delas.

“Tá a subir!”, ouve-se por parte de um dos mordomos, visivelmente cansado e devedor de horas de sono à cama e de noites de amor com a namorada ou mulher ou qualquer coisa similar.

O povo, cá em baixo, faminto da diversão que a ocasião proporciona anualmente, batalha entre si para apanhar as cavacas caídas do céu. Escoriações ali e uma ou outra testa rachada acolá fazem parte da essência daquilo tudo.

Há excessos e alegria, há risos e choros, há xi-corações e Licor de Alguidar a ser bebido através da cavaca mais curvilínea que se encontra no interior do saco ou da algibeira, há gente à Beira-Mar que se torna mais “rapioqueira” do que costuma ser o ano inteiro, fazendo jus à encantadora marcha do “nosso menino”, na ponta da língua de cada um que vive, e mais tarde sobrevive, a tão hercúleo evento.

Há essas coisas todas e muito mais. A cidade associa-se à efeméride, principalmente restaurantes, bares, discotecas e uma senhora da Repartição de Finanças – daquelas com pirilampos mágicos no computador – que atende as pessoas com uma camisola de São Gonçalinho vestida. Parece que o santo tem um poder magnetizante que não vejo outro santo ter. Talvez por não conhecer a fundo mais nenhum. E ainda bem.

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Para viver e expelir emoções na sua genuinidade, chega São Gonçalinho. É-me especial, o sacana. É-nos, aliás.

Apareçam e divirtam-se! Há cavacas para todos, não se preocupem!

Opinião | Pedro Nuno Marques

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