Saúde

A “árvore do suicídio” que mata em minutos. O fruto proibido de The White Lotus é real

NOTÍCIAS DE COIMBRA | 1 dia atrás em 15-04-2025

Imagem: depositphotos.com

A misteriosa árvore pong pong, que se tornou uma peça-chave no enredo da terceira temporada da série The White Lotus, da HBO, não é apenas uma invenção dramática. A sua reputação sinistra como “árvore do suicídio” está bem enraizada na realidade e no passado, foi responsável por milhares de mortes todos os anos.

Conhecida cientificamente como Cerbera odollam, esta planta venenosa ganhou destaque no mais recente episódio da série, cuja ação decorre na Tailândia. O fruto da árvore é apresentado como perigoso, e com razão: bastam 20 a 30 minutos após a ingestão para que o corpo humano entre em modo de emergência, com náuseas, vómitos e diarreia a tentarem expulsar o veneno.

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O interesse dos fãs aumentou à medida que a personagem Timothy Ratliff, em luta com pensamentos suicidas, se vê potencialmente ligada ao fruto mortal. Muitos especulam se a narrativa, que já plantou esta semente simbólica no início da temporada, culminará com um desfecho fatal no último episódio.

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A Cerbera odollam pertence à família das Apocynaceae, conhecida pelas suas espécies tóxicas. A árvore é nativa do Sudeste Asiático, de algumas ilhas do Pacífico e do norte da Austrália, embora seja também cultivada como planta ornamental noutros pontos do mundo, pode ler-se na National Geographic.

O composto tóxico, a cerberina, encontra-se sobretudo nas sementes do fruto , semelhantes a caroços de pêssego. Basta uma pequena quantidade para provocar a morte, dependendo da constituição da vítima. Apesar do seu sabor extremamente amargo – um mecanismo natural da planta para afastar predadores, os humanos, ao longo dos séculos, aprenderam a usá-la em contextos tão diversos como medicina tradicional, suicídio e até homicídio.

A cerberina é um glicosídeo cardíaco, o que significa que interfere diretamente com a atividade eléctrica do coração. Após ser absorvida pelo estômago, começa a afetar o ritmo cardíaco, podendo causar disritmias perigosas e, em casos mais graves, paragem cardíaca.

“É como desligar o interruptor do coração”, explica o bioquímico Owen McDougal. “O músculo deixa de conseguir contrair e relaxar como deveria – e simplesmente para.”

Não é, de todo, uma morte pacífica.

A árvore pong pong já esteve envolvida em inúmeros envenenamentos fatais. Um estudo realizado em Querala, na Índia, entre 1989 e 1999, revelou que cerca de metade dos casos de intoxicação por plantas envolviam esta espécie. Estima-se que, historicamente, cerca de 3.000 pessoas por ano tenham morrido devido à ingestão do seu fruto ou de espécies semelhantes, como a Cerbera manghas, também conhecida por tangena.

Na ilha de Madagáscar, no século XIX, a tangena foi usada em julgamentos de bruxas: os suspeitos eram forçados a beber uma mistura com raspas da semente como “prova de inocência”. Se sobrevivessem, eram considerados inocentes. Muitos não sobreviveram.

Apesar da sua toxicidade, a árvore continua a ser vendida online como planta exótica. Em 2018, seis casos de envenenamento foram identificados nos EUA, três dos quais resultaram em morte. Um deles envolveu uma mulher que, alegadamente, adquiriu o fruto pela Internet como parte de um regime de emagrecimento.

Infelizmente, não existe um antídoto específico para a cerberina. Os hospitais podem administrar medicamentos como atropina e utilizar técnicas de suporte cardíaco, mas a eficácia depende da rapidez com que o envenenamento é detectado e tratado. Em muitos casos, especialmente em zonas isoladas, as vítimas não sobrevivem.

“Sem tratamento imediato, a morte pode ocorrer em cerca de uma hora”, alerta Hilary Hamnett, especialista em toxicologia forense.

Mesmo que o desfecho de The White Lotus não termine com uma morte causada pela árvore do suicídio, a série trouxe novamente para o centro das atenções uma planta cuja beleza esconde uma natureza mortal. Num mundo onde o exótico se torna cada vez mais acessível, é vital lembrar que nem tudo o que é raro deve ser tocado — quanto mais ingerido.

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