Coimbra
Notícias de Coimbra em destaque no Meios & Publicidade
Fernando Moura, Director do Notícias de Coimbra, entrevistado pelo jornalista Rui Oliveira Marques, do jornal especializado Meios & Publicidade.
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“Criatividade editorial, o espírito irreverente e o estilo sarcástico são fundamentais para ter um meio de comunicação social mais próximo de uma sociedade moderna, aberta e exigente”, comenta ao M&P Fernando Moura, director do Notícias de Coimbra (NdC), jornal digital da capital do Centro com cinco anos de existência.
O jornal é exemplo da polivalência que o digital veio trazer à área dos media, uma vez que é produzido apenas por uma pessoa, que incute o seu próprio estilo e ritmo ao projecto, “o que gera grandes conflitos entre o director e o jornalista”, ironiza Fernando Moura.
Segundo dados do NdC, 65 por cento dos leitores estão na região de Coimbra, 15 por cento no resto da região Centro e 10 por cento em Lisboa. Mais de 60 por cento dos leitores têm entre 18 e 45 anos. “Posso adiantar que somos líderes destacados no site e no Facebook. Temos mais seguidores do que o Diário de Coimbra, AsBeiras e Campeão das Províncias, jornais com décadas de existência”, refere. No Facebook o jornal destaca-se da concorrência, com 103 mil seguidores.
A um ritmo quase diário, são publicados no Facebook directos em vídeo. Há dias foram 10 directos da Procissão da Rainha Santa, sendo que os que têm mais impacto são os ligados à Universidade de Coimbra. Há vídeos com quase 700 mil visualizações. “Os directos da vida autárquica não têm grande audiência, apesar disso, fazemos questão de mostrar o que se passa, por exemplo na Assembleia Municipal de Coimbra, que transmitimos na íntegra”. Convém acrescentar que os directos são feitos com um smartphone.
Este desempenho traduz-se em publicidade? “Apesar de o NdC ser líder de audiências, os anunciantes locais continuam muito agarrados ao papel. Habituaram-se a fazer publicidade nos jornais impressos como quem dá uma esmola. Prevalece o clientelismo e o amiguismo. Uma pequena parte já percebeu que os leitores estão cada vez mais online e que no NdC têm mais retorno com menos investimento.
Coimbra é uma cidade com um tecido económico caduco, onde os principais anunciantes são as autarquias e instituições de ensino superior, o que torna mais difícil a rentabilização de um projecto como o NdC que não tem medo de denunciar o ‘compadrio’”, prossegue.
Uma das principais instituições da cidade, a Universidade de Coimbra, nunca investiu em publicidade no Notícias de Coimbra. “É uma forma de nos castigar, porque ousamos noticiar o que eles não querem que se saiba. É pura censura, pois a instituição investe e muito nos ‘jornais amigos’”.
Ao nível autárquico, o cenário é diferente. “A Câmara Municipal de Coimbra e outras da região já perceberam que o Notícias de Coimbra é um parceiro fundamental. O comportamento da Câmara de Coimbra tem sido exemplar. Só lamentamos que não nos deixe consultar o que é votado nas reuniões do executivo municipal, acto que cobrimos em tempo real”.
Mas foi a pretexto da autarquia de Coimbra que o jornal travou um braço de ferro com dois consultores de comunicação, logo no arranque do NdC. Segundo recorda Fernando Moura, a Câmara Municipal de Coimbra ia contratar os consultores que tinham feito a campanha de comunicação do regressado presidente Manuel Machado. “Não queriam que se soubesse deste arranjinho entre candidato, PS e consultores. Alegaram que não era verdade. Pediram uma indemnização de 38 mil euros. Apesar de o Ministério Público nem sequer ter acompanhado a acusação, recorreram até ao Tribunal da Relação de Coimbra. Não fomos pronunciados. Foi uma tentativa clara de silenciar um jornal que estava a começar”, relata.
Toda a relação entre a autarquia, os consultores e o próprio NdC foi sendo relatada no jornal online ao longo dos anos. “A Câmara de Coimbra contratou mesmo as empresas detidas por Luís Miguel Viana e José Manuel Diogo ou só por José Manuel Diogo. Primeiro contratou a empresa Valor de Fundo. Mais do que uma vez. A seguir contratou a Información Capital. Tudo por ajuste directo. Mais de 200 mil euros.Só não contratou a Agenda Setting, porque esta faliu, deixado dívidas na ordem do milhão de euros. Acredito que o presidente da Câmara é alheio à questão judicial.
Creio que os rapazes quiseram mostrar serviço, dar a ideia de que controlam tudo e todos”, comenta. Por ser um projecto unipessoal, o Notícias de Coimbra tem a vantagem “de não guardar para amanhã o que acontece hoje e de não viver à sombra dos poderes locais”, reforça.
O percurso profissional de Fernando Moura tem estado ligado à radio e aos jornais. Foi director-geral e comercial da Rádio Actividade e do semanário As Beiras, que deram origem à 90 FM (agora ocupado pela Mega Hits) e ao diário As Beiras.
Foi director comercial da TSF em Coimbra. Fundou e dirigiu várias rádios locais e ajudou a lançar o jornalgratuito Centro Económico.
Neste momento o jornal online “é rentável”, refere o director. Numa fase inicial, parte dos conteúdos estavam fechados para assinantes. Esse modelo foi abandonado, vindo as receitas da publicidade. “Dá para pagar as despesas. Não tem passivo. Claro que não ganho um ordenado compatível com os meus 30 anos de carreira, mas encaro isto como um sacerdócio.
Foi muito complicado nos primeiros três anos. Cheguei a não ter dinheiro para coisas básicas como gasóleo ou internet. Por outro lado, as centrais decompras não ligam à imprensa regional. Em cinco anos não fui contemplado com nenhuma campanha nacional comercial ou institucional com origem em agências de meios”, lamenta.
A médio prazo, o objectivo do Notícias de Coimbra passa por reformular o site e criar um pequeno estúdiode televisão para emissão de debates e entrevistas. “Desejo encontrar um parceiro que permita consolidar o projecto, para depois contratar duas ou três pessoas que ajudem a manter a liderança e a criar outro tipo de conteúdos”, projecta Fernando Moura, ao mesmo tempo que desabafa: “Trabalho todos os dias, sem folgas, sem férias. Apesar de querer, não consigo dedicar-me a outros projectos profissionais. Costumo dizer que estou numa relação com o Notícias de Coimbra”.
Depois da Rádio Renascença, O Corvo, Jornal de Notícias, Shifter, Maisfutebol, Eco, Observador e Jornal de Negócios, este é o nono artigo de uma série sobre jornalismo digital que o M&P começou a publicar desde o início do ano
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