Coimbra
Lei sobre incêndios em edifícios é boa mas há falhas no cumprimento
A legislação existente em Portugal relativa à segurança contra incêndios em edifícios é das melhores a nível internacional, embora muitas vezes não seja cumprida e eficazmente aplicada, disseram à Lusa dois engenheiros especialistas em Estruturas.
“Posso garantir que temos das melhores legislações ao nível mundial e recentes. As inspeções estão regulamentadas, mas, muitas vezes, sucede que estas coisas existem [incêndios urbanos] e aconteçam na mesma”, disse Paulo Vila Real, vice-reitor da Universidade de Aveiro e diretor científico do Laboratório de Resistência ao Fogo.
Em declarações à agência Lusa, o especialista e docente na Universidade de Aveiro considerou não ser por falta de legislação que “os edifícios não são projetados e fiscalizados”, mas, exemplificou, pode acontecer uma fiscalização ocorrer numa altura em que tudo está conforme a lei e, posteriormente, o edifício ser intervencionado com alterações e não ficar conforme a regulamentação até haver uma nova inspeção.
“Nesse hiato, os acidentes podem acontecer”, frisou.
João Paulo Rodrigues, coordenador do Mestrado em Segurança aos Incêndios Urbanos da Universidade de Coimbra, também considera a regulamentação portuguesa “boa e exigente”, mas sublinha que há falhas ao nível de “implementação e fiscalização”.
O engenheiro de formação explicou que, de acordo com a lei, são as pessoas que têm de pedir as inspeções, mas não estão informadas desse facto, “por isso não pedem e cria-se um vazio”.
“Algumas situações que têm existido é porque as condições regulamentares não estão implementadas, pois a entidade explorada não pediu inspeção e, eventualmente, nem sabia que a mesma tinha de ser pedida”, disse, sublinhando, contudo, que o cidadão não pode invocar desconhecer a lei.
Para João Paulo Rodrigues, a solução passa pela pedagogia.
O especialista apontou o exemplo norte-americano: os vários estados dedicam uma semana por ano à iniciativa Semana da Segurança, na qual as pessoas são sensibilizadas neste âmbito e para a implementação das regulamentações.
“Aqui em Portugal não tem havido isso. Sei que alguns municípios, há alguns anos, faziam folhetos sensibilizando os cidadãos para os perigos e colocavam nas caixas dos correios, mas agora isso não se faz e as pessoas estão um pouco perdidas”, frisou.
João Paulo Rodrigues sugeriu que a sensibilização passe pelo envio de um email pela Proteção Civil – organismo responsável pelo planeamento, coordenação e execução da política nacional de proteção civil – a dizer quais as competências enquanto cidadãos ao nível da segurança contra incêndios e outras matérias.
“Era um pouco à semelhança daquilo que faz a Autoridade Tributária quando nos envia emails a dizer as nossas obrigações e os prazos. Porque não a Proteção Civil a fazer o mesmo?”, questionou.
A Universidade de Aveiro possui, desde 2008, um laboratório de estruturas e resistência ao fogo onde se fazem ensaios regulamentares de produtos testando a sua capacidade de resistência aos incêndios.
Paulo Vila Real explicou que, apesar de não estar acreditado a nível nacional, o laboratório serve para que as empresas portuguesas desenvolvam um produto e depois, para obter marcação CE (Comunidade Europeia), recorram a laboratórios estrangeiros sabendo que o seu produto já possui as características exigidas para essa certificação.
“Digamos que uma empresa quer desenvolver uma porta contra o fogo. Podem fazê-lo aqui. Trazem o produto, mete-se no forno vertical […] e vê-se quanto tempo aguenta em termos de isolamento térmico e estanquidade, entre outros”, referiu.
Esse tempo permite classificar os materiais e, posteriormente, os projetos de segurança contra incêndio estabelecem a resistência necessária, em função do tipo de utilização.
“Se estivermos a pensar em edifícios de habitação, um fator de risco é a altura do edifício – em função desta terá mais necessidade de tempo de resistência ao fogo. O que se faz aqui é procurar que a estrutura aguente esses tempos e os próprios materiais e elementos de compartimentação também”, explicou.
Além das portas corta-fogo, o laboratório pode testar paredes de compartimentação, fazer o estudo de materiais de proteção ao fogo (muito utilizados nas estruturas metálicas), testes ao isolamento térmico e à estanquidade ao fogo em portas, paredes e outros elementos.
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