Coimbra
Club Med nas aldeias turísticas? Não!
O primeiro painel da 5.ª edição do Fórum Vê Portugal prometia uma conversa estimulante e o resultado excedeu as expetativas, graças à pertinência do tema – “Turismo de Natureza: Que Desafios Para a Sustentabilidade?” – e à qualidade dos intervenientes.
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O debate contou com intervenções de Domingos Xavier Viegas, Coordenador do Centro de Estudos sobre Incêndios Florestais, Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra e autor do relatório sobre o incêndio de Pedrógão Grande; Paulo Fernandes, Presidente da Câmara do Fundão e da ADXTUR – Agência para o Desenvolvimento Turístico das Aldeias do Xisto; Viriato Garcez, Diretor de Departamento de Conservação da Natureza e Florestas do Centro; e Paulo Pedrosa, CEO da A2Z, morador na aldeia da Ferraria de São João e grande impulsionador da Zona de Proteção desta aldeia.
O professor Xavier Viegas, “keynote speaker”, deu o mote, lançando a discussão sobre o impacto dos incêndios florestais de 2017 e apontando caminhos para que as tragédias possam ser evitadas. “Os incêndios florestais são uma das maiores ameaças para o mundo rural. Põem em causa a segurança das pessoas, o património e afetando todas as atividades, incluindo o turismo”, salientou.
“O turismo é uma das maiores riquezas do país e a segurança é um dos fatores de atração do país. Os incêndios prejudicam esta imagem”, lembrou.
Para o especialista, o grande problema é que “o país tem vivido como se o problema não existisse. 2017 mostrou que o pais é vulnerável e que os incêndios podem atingir qualquer pessoa, em qualquer sítio do país”.
A solução, indicou, passa pela consciencialização das populações, das pessoas. “Os incêndios são uma questão de cidadania. Qualquer processo de resolução tem de passar pelas pessoas, não podemos esperar só pelo Estado. As situações podem repetir-se, mas as consequências não se podem repetir. Temos de nos organizar para enfrentar o problema”, considerou.
Paulo Fernandes acrescentou elementos à discussão, afirmando que “a dicotomia incêndios rurais e urbanos perdeu-se”. “As zonas periurbanas, que antes estavam ocupadas, foram perdendo atividades e ficando abandonadas ao longo do tempo, fazendo com que os incêndios entrem em grande força nas aldeias, vilas e cidades”, alertou.
“A Natureza não para. Todos os dias crescem plantas que não queremos. Atuar sobre a paisagem é um desafio. Não podemos esperar que a Natureza resolva o problema”, defendeu, recordando que o incêndio de outubro não entrou no Fundão “por causa das cerejas”.
Depois de Viriato Garcez ter salientado a atuação do ICNF, nomeadamente através do site Natural.pt, foi a vez de Pedro Pedrosa contar a experiência que viveu em junho, quando a aldeia da Ferraria de São João se viu cercada pelas chamas, e o que está a ser feito desde então, na zona de proteção da aldeia.
“Portugal e o sul da Europa vão continuar a arder. O problema dos incêndios é social. É precisamente aí que merece a nossa reflexão”, disse.
Para isso, é necessário “capacitar as pessoas” das aldeias e fazê-las “acreditar que é possível fazer acontecer”.
Não podemos deixar que as Aldeias do Xisto, as nossas aldeias históricas, sejam transformadas num Club Med, avisou Pedro Pedrosa.
Veja o vídeo do Direto NDC:
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