Cidade
Instituições de solidariedade de Coimbra com poucos recursos face ao aumento dos pedidos de ajuda
Várias instituições de solidariedade social de Coimbra alertaram hoje para a escassez de recursos que têm disponíveis para dar resposta aos crescentes pedidos de ajuda.
Contactado pela Lusa, o diretor do Centro Porta Amiga da AMI (Assistência Médica Internacional) de Coimbra, Paulo Pereira, afirmou que atualmente a realidade é muito diferente para as instituições de solidariedade porque “há fome”.
“A partir de 2012 foi o descalabro total”, considerou Paulo Pereira, relatando casos de idosos que têm que optar por “um dos quatro medicamentos a tomar”, ou famílias que chegam à AMI com avisos de corte de água, luz ou gás.
“Não nos passa pela cabeça, sequer, reduzir a pobreza para um mínimo aceitável. Ajudamos as pessoas a sobreviver no meio da pobreza. E não é para isso que existimos”, lembrou Paulo Pereira.
Para além das condições mínimas não serem garantidas, Paulo Pereira alertou para o possível “aumento de doenças mentais”, afirmando que podem também surgir “comportamentos de delinquência” motivados pelo “desespero”.
Desespero esse que também recai nas próprias instituições, que têm “muito menos géneros alimentares” para dar e “mais pessoas” a quem responder.
Outra instituição contactada pela Lusa, a Associação Integrar, com sede em Coimbra, referiu que o perfil da pessoa que pede ajuda mudou, chegando às instituições situações de “desemprego prolongado, empregos precários e pessoas que, de repente, perderam o trabalho”.
“Já se vive numa situação de emergência social”, frisou Jorge Alves, presidente da Associação Integrar, considerando que a procura de apoios “é superior à capacidade de oferta” das instituições de solidariedade social.
José Santos Andrade, presidente do Banco Alimentar de Coimbra, partilhou da mesma ideia e referiu que as “instituições estão superlotadas”.
O mercado das campanhas de angariação de fundos “está saturado”, há “menos recursos, apoios e parcerias”, e Carina Dantas, diretora do Departamento de Inovação da Caritas de Coimbra, não sabe até quando é que “a corda vai esticar”.
A Caritas, a partir do Centro de Apoio Social criado há quatro anos tem registado um aumento anual de atendimentos. Em 2011 foram 307, em 2012 duplicou o número, e em 2013, ainda sem “o pico crítico” do Natal, já foram realizados 806 atendimentos.
Carina Dantas contou que, neste momento, é “mais difícil” encontrar soluções, admitindo que “apenas se tapam os buracos maiores”.
A situação “é problemática” e Armando Garcia, presidente do Centro de Acolhimento João Paulo II, considerou mesmo que “o Estado se divorciou da ajuda social à população”.
O presidente da instituição disse à agência Lusa que as pessoas se sentem “marginalizadas” e “desgastadas”, considerando que o aumento de pedidos de ajuda irá continuar, prevendo que 2014 possa ser “trágico” para as famílias portuguesas.
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