Opinião

Energia do lixo

TORRES FARINHA | 11 anos atrás em 11-10-2013

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Dizia no artigo anterior que a energia advém de uma diferença de potencial que pode ser gerada das mais variadas formas e ter as mais diversas origens, desde a água, vento, lixo, sol, nuclear, petróleo, carvão, gás natural, gás de xisto, geotermia, e biomassa, apenas para citar algumas.

É neste paradoxo que vivemos actualmente, isto é, temos fontes energéticas diversificados e, contudo, centramo-nos nas que comercialmente são mais interessantes para alguns grupos económicos, tal como é o caso da principal fonte de energia que move o mundo, o petróleo.

Para contrastar com este recurso, neste artigo falar-se-á da energia oriunda do lixo. Sim, esse problema gigantesco que as urbes têm e que se pode transformar de dificuldade em solução, com consequências benéficas para todos.
O lixo que produzimos diariamente, designado por Resíduos Sólidos Urbanos, tem como destino final lixeiras a céu aberto, aterros sanitários e aterros controlados.

O lixo é composto por uma série de materiais que podem ser separados em dois grupos, orgânicos e recicláveis: os orgânicos são os biológicos, designadamente os alimentos; os recicláveis são os não biológicos, tais como os diversos recipientes que usamos (latas, embalagens, sacos, garrafas, etc.), entre outros.

Os materiais recicláveis, geralmente, demoram muito tempo, de meses a anos, até sofrerem decomposição e, portanto, a libertar algum tipo de gás ou substância que possa ser aproveitada para gerar energia. Além disso, o melhor destino para este tipo de lixo é a sua reutilização e ou reciclagem.

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Os materiais orgânicos são a parte do lixo que é decomposta por microorganismos gerando produtos, tais como gases e substâncias líquidas tóxicas que, em pouco tempo, contaminam o ar, o solo e os lençóis freáticos.

A mistura de gases produzida pela parte orgânica do lixo é conhecida como biogás, sendo o principal componente o gás metano (CH4), que produz um efeito de estufa 20 vezes superior ao do dióxido de carbono. Aquele gás é o principal componente do gás natural, que é extensamente utilizado nas cidades e na indústria.

Vejamos então como se pode transformar lixo em energia: Os aterros, à medida que vão avolumando lixo e, por consequência, acumulando preocupações ambientais e de segurança, podem transformar-se em fontes de energia para os aglomerados urbanos que os produziram. A decomposição da matéria orgânica acumulada nas lixeiras, tal como referido, gera gás metano, que é um gás combustível, também chamado de biogás.

O norte da Europa é uma fonte de bons exemplos de gestão ambiental, mesmo que, nalguns casos, quase ronde o caricato, pelo facto de haver países que importam lixo, como é o caso da Noruega. A cidade de Oslo recebe lixo da Inglaterra, da Irlanda e da vizinha Suécia, necessitando de aumentar ainda mais as importações deste “recurso”, para o transformar em calor e em electricidade.

Em Oslo, metade da cidade e a maioria das escolas são aquecidas pela queima do lixo doméstico. Em toda a Europa setentrional, nas últimas décadas, disparou a prática de queimar lixo para gerar calor e electricidade, pelo que a procura de lixo é muito superior à oferta.

A população do norte da Europa produz cerca de 136 milhões de toneladas de resíduos por ano, que é muito pouco para abastecer as centrais que têm capacidade para consumir mais de 635 milhões de toneladas.
O paradoxo desta opção norueguesa acentua-se se atendermos ao facto de que a Noruega está entre os dez maiores exportadores mundiais de petróleo e gás, tem abundantes reservas de carvão, e uma rede de mais de 1.100 centrais hidroeléctricas nas suas montanhas.

A opção da queima do lixo só enfatiza a preocupação ambiental desta nação, que pretende ter um país verde, continuando a ganhar com o facto dos outros países continuarem a comprar o seu petróleo e o seu gás.

A atitude da Noruega perante um dos maiores problemas das nossas cidades, transformando-o em solução, devia ser seguida pelas várias urbes da Europa e, em particular, no nosso país. Contudo, em Portugal também há bons exemplos, tal como é o caso da “LIPOR – Serviço Intermunicipalizado de Gestão de Resíduos do Grande Porto”, exemplo paradigmático para ser tomado como referência pelos outros municípios.

E nós por cá? Será que Coimbra vai ter oportunidade de seguir este bom exemplo e dar mais um contributo para ser chamada não só de cidade da saúde mas também do ambiente, já que a saúde e o ambiente devem andar de mãos dadas? Fica o desafio.

TORRES FARINHA

Investigador

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