Movimento reticente quanto a promessas de Cabo Verde para doentes em Lisboa
O movimento Ubuntu CV manifestou-se hoje reticente em relação às promessas feitas pelo embaixador de Cabo Verde em Lisboa para o realojamento e melhoria de condições dos doentes cabo-verdianos a receberem assistência médica na capital portuguesa.
“São promessas de hoje, foram de ontem e já tinham sido de anteontem. As promessas não são de cabo-verdianos, são de políticos, de pessoas que precisam dar retorno para o partido do Governo e para o eleitorado”, afirmou Saturnino Rodrigues, vice-presidente do Ubuntu CV, organização que reuniu quase uma dezena de cabo-verdianos em frente à embaixada do país.
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O protesto silencioso – apenas se exibiam cartazes a reclamar direitos para os doentes ou a denunciar a situação – foi convocado pela Ubuntu CV, embora, de acordo com a embaixada, tenha sido comunicado o seu cancelamento no final da tarde de segunda-feira.
Na manhã de hoje, a reunião em frente à embaixada foi novamente convocada, um dia depois de o embaixador cabo-verdiano em Portugal, Eurico Monteiro, ter garantido solução para “uma parte” dos 27 doentes e 11 acompanhantes hospedados na pensão Madeira, em Lisboa, cuja administração determinou a saída destes a 15 deste mês, devido a obras.
Monteiro garantiu ainda que, em janeiro de 2018, por determinação do primeiro-ministro cabo-verdiano, Ulisses Correia e Silva, ficou “assente, por diretiva claríssima, que no próximo ano teria de repor a totalidade dos direitos dos doentes”.
O diplomata, que assumiu a regularização de dívidas relacionadas com ambulatório, funerárias, farmácias e estabelecimentos de saúde, anunciou ainda o aumento para “372 euros da verba” a atribuir mensalmente, “bilhetes de passagens de ida e volta, passe social num valor entre 36 e 70 euros mensais, medicamentos gratuitos e próteses gratuitas”.
Saturnino Rodrigues manifestou-se cético quanto à intenção de resolução das dívidas ao mesmo tempo que se melhoram as condições dos doentes e enfatizou que “são promessas vindas de políticos”.
“São várias as promessas que têm sido feitas desde 1975 e a situação é a mesma”, disse, aludindo a problemas de habitação, alimentação e falta de verbas com que os doentes e os acompanhantes se deparam em Portugal.
O vice-presidente da Ubuntu CV, organização que apoia também os doentes em alimentação, criticou ainda a embaixada por não dialogar com o movimento, que iniciou contactos no início do ano, quando Monteiro foi designado como embaixador.
“Contactámos logo a embaixada, mas não foi possível encontrarmo-nos com o embaixador, que estava em reuniões com Governo. Ficámos a aguardar”, afirmou.
O dirigente da Ubuntu CV considerou que, “por causa da filosofia” do movimento, “que é expor a situação dos doentes”, foram marginalizados.
“Começámos a ser vistos como inimigos”, observou, afirmando que, no caso da pensão Madeira, a embaixada “chamou os doentes e disse-lhes que tinham de procurar um lugar”, quando as “pessoas têm dificuldades para alugar um apartamento”, por não terem salário e não conseguirem “um fiador”.
Saturnino Rodrigues disse que existe um contacto com uma imobiliária, “para alojar 90 doentes”, uma proposta que queria apresentar à embaixada, “que teria responsabilidade de alugar o espaço”.
De acordo com o Governo de Cabo verde, entre 400 e 500 cabo-verdianos (cerca de 340 estão em casa de familiares, segundo a embaixada) viajam anualmente para Portugal para beneficiarem de assistência médica, no âmbito de protocolo do Estado português com os PALOP (Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa).
Por ano, o Governo cabo-verdiano despende “com os doentes em Portugal uma quantia superior a cinco milhões de euros”.
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