Incêndios: Investigador de Coimbra quer meter EDP “na linha”

Notícias de Coimbra | 7 anos atrás em 09-11-2017

O diretor do Centro de Estudos sobre Incêndios Florestais da Universidade de Coimbra (UC), Domingos Xavier Viegas, voltou hoje a apontar responsabilidades à EDP nos fogos em Portugal, devido às “más práticas” da empresa elétrica.

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“Pelo que temos visto nos indícios que temos recolhido, dá ideia de algum desleixo por parte desta instituição relativamente à manutenção das linhas elétricas na distância entre a folhagem das árvores e as linhas”, disse o investigador.

Xavier Viegas, que falava no final da palestra “Uma abordagem da ciência aos incêndios florestais”, inserida no ciclo “Ciência às Seis”, no Departamento de Física da UC, acrescentou que “existem casos em que isso está plenamente reportado”.

“Nestes incêndios [Pedrógão Grande] temos indícios muito importantes para isso e julgo que isso não se pode tolerar e passar sem uma chamada de atenção”, disse o professor do Departamento de Engenharia Mecânica da UC.

“Vários incêndios que nós investigámos, como aquele em Mortágua [em 2005] em que morreram quatro sapadores de Coimbra, foi causado por uma linha elétrica de 15 quilovolts, que está devidamente documentado”, salientou.

Na sua palestra, o diretor do Centro de Estudos sobre Incêndios Florestais da UC disse que, se não for parada, a EDP vai continuar com as más práticas, dizendo que “vai ser uma luta difícil”.

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E apontou o caso de Pedrógão Grande, em que apesar de ter sido solicitado ao Ministério Público que embargasse a zona onde supostamente terá começado o incêndio para a realização de mais peritagens, “a EDP chegou lá e cortou toda a vegetação”.

Xavier Viegas considerou ainda que falta integrar um quarto pilar na estrutura de combate as incêndios florestais, que são as pessoas.

“O Estado pensa que se resolve com estas três entidades [Proteção Civil, GNR e Instituto da Conservação da Natureza (ICNF)], mas falta um pilar, que é a população, a comunidade científica e as empresas”, frisou.

O investigador lamentou que estas entidades quando chegam ao terreno comecem por “afastar as pessoas, mesmo as válidas, que conhecem o terreno, sabem o que fazer e defender-se e que podiam ser um auxiliar muito importante para os bombeiros no combate”.

“Se as pessoas fossem devidamente aproveitadas, e não podemos ir atrás do mito que no interior está cheio de velhotes, teriam possibilidade de se organizar e de ser equipadas e preparadas para se autodefender, e há muitos exemplos de aldeias que criam unidades locais de proteção civil e que têm de ser multiplicadas”, sublinhou.

Para Xavier Viegas, as pessoas tem de ser ensinadas a autoproteger-se “porque, como vimos este ano, há muitas situações em que os bombeiros não chegam lá”.

Relativamente ao ICNF, o diretor do Centro de Estudos sobre Incêndios Florestais da UC disse que este organismos, ao longo dos anos, “está coxo, não existe, não está lá, esvazia-se de ano para ano e afasta-se do problema”.

“Não o vejo a fazer coisa alguma”, sublinhou.

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