Charamela da Universidade de Coimbra edita primeiro CD
A Charamela da Universidade de Coimbra, sob a direção do maestro Francisco Relva Pereira, edita na próxima semana o seu primeiro CD, que inclui composições dos séculos XVI e XVII, além do “Hino Académico” oitocentista, de José Medeiros.
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A existência deste agrupamento musical remonta ao século XV, mas “grande parte do repertório [mais antigo] desapareceu”, existindo todavia “algumas peças dispersas que se encontram na Biblioteca Geral” da instituição, disse à agência Lusa Francisco Relva Pereira. Entre as peças do repertório histórico, foi identificada uma do português José Maurício (1752-1815), da Universidade de Coimbra.
Na música antiga, charamela correspondia a um instrumento de sopro, de madeira, antepassado dos atuais clarinetes, alargando-se posteriormente a designação a um agrupamento musical, composto por diferentes instrumentos de sopro e de percussão, destinado às chamadas “cerimónias de aparato”, como a abertura do ano académico, no caso da Universidade.
Para o CD, editado pela Framart, da Associação António Fragoso (AAF), foram gravadas 22 obras de diferentes compositores europeus, sobretudo da Renascença tardia e do Barroco inicial (séculos XVI, XVII), mas também da síntese mais tardia do século XVIII (Georg Frideric Handel e Johann Christian Bach), além do “Hino Académico”, de autoria de José de Medeiros (1827-1907).
O CD inclui ainda o “Gaudeamus Igitur”, de autor anónimo, que o maestro diz tratar-se do Hino Académico Internacional, que entrou nas solenidades académicas portuguesas através da Universidade de Lisboa, durante o reitorado de Marcello Caetano (1959-1962).
A atual Charamela da Universidade de Coimbra é composta por dez músicos: Fernando da Cruz Vidal, Ricardo Ribeiro Gomes e Francisco Gonçalves da Fonseca (trompetes), José Malva Craveiro e Lino Egas Freitas (trompas), Pedro Malva Cipriano e Ricardo Lemos Botelho (trombones), Jorge Reis Pereira (bombardino) e Óscar Subida Matos (tuba). Na gravação do CD, o trompetista Francisco Gonçalves da Fonseca foi substituído por Fábio Silva Martins.
Segundo o maestro, “esta é a forma mais tradicional” do agrupamento, “que se mantém desde os primórdios do século XX”, semelhante à existente no século XIX.
A Charamela foi no entanto reorganizada em 2015, com a atual composição, depois de ter sido composta por um grupo de músicos recrutados na Banda do Exército, estacionada em Coimbra, entre meados da década de 1990 e 2006, e por um quinteto (dois trompetes, dois trombones e uma tuba), de 2006 a 2015, “o que quebrou a tradição”.
A AAF “teve um papel preponderante, no ressurgimento da Charamela da Universidade de Coimbra, contestando o quinteto, que fugia à composição histórica, “pois quanto à qualidade dos músicos [era] intocável”, disse o maestro.
A Charamela da Universidade de Coimbra é um projeto da AAF, no âmbito de um protocolo com a instituição académica. A maioria dos atuais músicos “tinham já sido charameleiros, ainda no tempo do Exército”, disse o maestro.
O agrupamento atua regularmente na abertura do ano letivo e no dia da universidade, nas imposições de insígnias doutorais e nos doutoramentos honoris causa. Este ano, pela primeira vez, atuou numa série de concertos, a convite do Turismo local.
“Este é um estilo de música que assenta, precisamente, no protocolo das cerimónias. É o estilo que está historicamente documentado, e é o que fica bem”, sublinhou Relva Pereira, que aponta as cerimónias do extinto Mosteiro de Santa Cruz, como origem remota da Charamela.
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