Candidatos de Góis defendem que eucaliptos podem ajudar a travar a desertificação
Três dos quatro candidatos à Câmara de Góis reconhecem a necessidade de reflorestar com espécies autóctones as áreas devastadas pelo fogo, em junho, mas alertam que o retorno económico do eucalipto pode ajudar a travar a desertificação.
A ideia de conciliar a plantação de árvores de crescimento lento, como o carvalho e o castanheiro, com a manutenção de algumas áreas de eucaliptal, para assegurar rendimentos aos proprietários rurais no médio prazo, é partilhada por José Rodrigues (Grupo de Cidadãos Eleitores Independentes por Góis), Maria de Lurdes Castanheira (PS) e Rui Sampaio (PSD).
Já a CDU, que candidata António Flores Tavares à presidência da autarquia, lamenta que “anos sucessivos de políticas erradas” tenham despovoado o interior de Portugal, onde “grandes áreas” montanhosas acolheram a monocultura do pinheiro e depois do eucalipto.
Sem mencionar as espécies no seu manifesto autárquico, a coligação do PCP com os Verdes converge, no entanto, com as outras candidaturas quanto à necessidade de “assegurar o ordenamento florestal” no concelho de Góis, no distrito de Coimbra.
“Se o produtor não ganhar dinheiro com a floresta, não reinveste e aumentará o abandono e a probabilidade de incêndios”, disse à agência Lusa o vereador do PS José Rodrigues, que agora se candidata pelo movimento Independentes por Góis, que em 2013 conquistou dois dos cinco mandatos do executivo liderado pela socialista Lurdes Castanheira.
A floresta “é vital para o concelho de Góis”, afirmou José Rodrigues, procurando demonstrar que “sem floresta não há turismo, paisagem, qualidade ambiental e da água, caça, pesca ou produtos endógenos”.
“Estou completamente convencida de que a aposta tem de ser no ordenamento da floresta”, declarou à Lusa, por seu turno, Lurdes Castanheira, que se recandidata a um terceiro mandato na Câmara Municipal.
Na sequência dos incêndios que eclodiram em Pedrógão Grande e Góis, no dia 17 de junho, e que se propagaram a municípios vizinhos, causando pelo menos 64 mortos e mais de 200 feridos, o Governo, com apoio da Assembleia da República, decidiu avançar com um projeto-piloto de reflorestação das áreas queimadas, que inclui a realização do cadastro das propriedades.
“Góis não pode caminhar para a exclusividade” de árvores que não integravam a floresta primitiva, como o eucalipto, segundo a candidata do PS, que defende a promoção “da biodiversidade e da floresta de uso múltiplo”, que inclua também medronheiros, carvalhos, castanheiros e outras folhosas.
Para Lurdes Castanheira, o futuro de Góis requer “uma intervenção equilibrada”, que permita a existência de algumas áreas de eucaliptal, tendo em conta os rendimentos que proporciona, mas dando prioridade às árvores de folha caduca, envolvendo a Câmara, as juntas de freguesia e os compartes dos baldios no processo.
Rui Sampaio, candidato da coligação “Góis Mais” (PSD/CDS) salientou à Lusa também a necessidade de “dar prioridade às espécies endógenas”, mantendo espaços de eucaliptal, mas sem aumentar as áreas ocupadas por esta espécie exótica.
“Mas não se pode abdicar de todo da plantação de eucaliptos”, defendeu, alertando que tal opção iria “retirar às pessoas o rendimento” das suas propriedades, maioritariamente de pequena dimensão.
Na ótica de Rui Sampaio, “tem de haver bom senso e equilíbrio” na aplicação das medidas legislativas aprovadas para o setor, para não acentuar a tendência da desertificação.
“Não há espécies assassinas. Todas ardem com mais ou menos intensidade. Mas não podemos ter manchas contínuas da mesma espécie”, reiterou o candidato independente José Rodrigues.
A candidatura de António Flores Tavares, da CDU, realça ainda “a necessidade de valorizar os pequenos produtores e compartes dos baldios”.
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