Educação
20% das crianças têm problemas de visão que interferem com o rendimento escolar
Cerca de 20% das crianças em idade escolar têm algum défice da função visual capaz de interferir com o rendimento escolar. Agora que se aproxima o início do ano letivo, a Sociedade Portuguesa de Oftalmologia alerta para a importância da deteção precoce dos problemas visuais das crianças através de rastreios que devem ser feitos, pelo menos, a partir dos 3/4 anos.
Paulo Vale, coordenador do Grupo de Oftalmologia Pediátrica e Estrabismo da SPO, afirma que “as doenças dos olhos que mais afetam as crianças são os erros refrativos (miopia, hipermetropia e astigmatismo), a ambliopia e o estrabismo. Estima-se que cerca de 20% das crianças em idade escolar tenham algum défice de função visual provocado por uma destas patologias (ou outras menos frequentes)”.
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Um dos sinais mais habituais de problemas na visão, é, segundo Paulo Vale “a dificuldade na leitura. Embora algumas crianças se queixem da sua dificuldade, muitas não o fazem, pelo que deve ser o educador (pais ou professor) a estar atento. A lentidão ou rejeição das tarefas que exigem esforço visual, o fechar ou tapar um dos olhos e os erros a copiar do quadro são sinais de alerta. Dores de cabeça, náuseas, olhos vermelhos, inchados ou lacrimejantes, estrabismo e fotofobia (dificuldade em suportar a luz) são sintomas que não podem ser ignorados e devem levar os pais a procurar um oftalmologista. Mas há crianças que não têm qualquer queixa, particularmente aquelas em que apenas um dos olhos vê mal, como é o caso dos pequenos estrabismos e das anisometropias (diferença de graduação entre os olhos) ”.
Assim, o especialista refere que é fundamental “realizar um primeiro rastreio por volta dos 3/4 anos, pois nesta idade já é possível contar com a colaboração da criança e o procedimento acaba por ter uma boa relação preço-eficácia. No entanto, o ideal é realizar um rastreio entre os 12 e os 18 meses, que permite detetar e corrigir fatores ambiogénicos e que só pode ser realizado por oftalmologistas”.
A forma como a utilização de computadores e outros dispositivos eletrónicos podem influenciar a função visual é uma questão que preocupa muitos pais. Paulo Vale explica que “não existem estudos científicos que comprovem a ideia de que os computadores em si provocam e/ou aumentam a miopia. Mas é provável que um número exagerado de horas a ler, ou ao computador, ou seja, exercitando prolongadamente a visão de perto, possa constituir um factor ambiental suscetível de fazer despertar genes ligados à miopia. Para além disso, há ainda o cansaço visual sentido após o uso prolongado e ininterrupto destes dispositivos eletrónicos. Por esses motivos se recomenda que a sua utilização moderada seja alternada com períodos de descanso”.
Para promover a saúde visual, o especialista em oftalmologia pediátrica recomenda que os pais e educadores “providenciem a iluminação, cadeira e secretária adequadas para tarefas de leitura, corrigindo posições erradas (como ler deitado de barriga para baixo) e certificando-se de que a distância de leitura é de 30 a 40 cm. É fundamental também a realização de pausas e verificar a posição dos monitores do computador e da televisão, evitando reflexos. No computador os olhos devem estar a um nível superior (15 a 20º) do centro do monitor e a distância da televisão deve ser cinco vezes a largura do ecrã”.
Paulo Vale deixa um alerta final, relativo à prevenção de traumatismos oculares. “A prática de atividades com laser ou jogos que coloquem em risco a integridade do aparelho visual deve ser impedida ou realizada com protetores de qualidade”.
Paulo Torres, presidente da SPO, afirma que “é na infância que se devem prevenir e tratar muitos problemas de saúde que podem revelar-se graves na idade adulta. As doenças oftalmológicas não são exceção, pelo que recomendamos a todos os pais e educadores que estejam atentos, realizem rastreios visuais o mais cedo possível e, em casa, promovam a saúde visual dos mais novos”.
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