Justiça

Um quarto em caixas, um filho desaparecido desde 1991. A dor sem fim da família Sepúlveda

NOTÍCIAS DE COIMBRA | 5 horas atrás em 24-04-2025

Imagem: DR

Em São Pedro do Estoril, a dor da ausência transformou-se em memória viva. Jorge Manuel Sepúlveda tinha apenas 14 anos quando desapareceu, numa manhã de verão de 1991. É o caso mais antigo de uma criança desaparecida.

Hoje, passados 34 anos, os pais, Maria Manuela e Pedro Augusto, continuam sem respostas. Jorge nunca mais foi visto.

Massarelos, Porto. Era feriado, 15 de agosto. O adolescente acordou cedo e foi para a cozinha, curioso, a fazer experiências com o forno. A mãe ainda o apanhou desprevenido, tão cedo. “Vai dormir mais um bocadinho ou vai brincar”, disse-lhe.

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Foi a última conversa entre os dois. Supõe-se que Jorge tenha saído de casa pouco depois, provavelmente pela varanda, atravessando o telheiro da quinta nas traseiras. Uma colega de escola ainda o viu mais tarde, perto do paredão, em direção ao Tamariz. E depois, silêncio.

A família Sepúlveda procurou-o sem descanso. Todas as noites, durante meses, percorriam ruas, contentores, cais, becos. De Belém ao Beato, entraram em carruagens de comboio, distribuíram fotografias, falaram com miúdos de rua. “Eram noites perigosas, mas não havia alternativa”, lembra o pai ao Correio da Manhã. “Havia droga, armas, mas nunca parámos”.

A mãe guarda o quarto de Jorge em caixas. A cama, os marcadores, os desenhos … um mundo congelado no tempo. A mudança de casa foi inevitável, mas não por esquecimento. “Era insuportável entrar naquele quarto. E se estava fechado, ainda pior. Ouvia-se o vazio”.

A ausência de Jorge moldou a vida da família. O pai teve de abandonar a carreira. A mãe nunca conseguiu deixar de procurar. A revolta contra o sistema é evidente. A Polícia Judiciária, dizem, não tinha meios. “Eram só dois inspetores, e uma não saía à noite”.

Hoje, Jorge Manuel teria 48 anos. O tempo passou, mas a dor manteve-se. “Nós não matamos as saudades”, diz a mãe. “Vivemos a pensar que ele se ausentou”. E continuam à espera, com o coração aberto e a memória sempre alerta.

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