Imagine acordar e perceber que perdeu a capacidade de falar, escrever ou compreender o que lhe dizem. Sem dor, sem aviso prévio, a linguagem — algo que damos por garantido — desaparece.
Esta é a realidade de quem vive com afasia, uma perturbação neurológica que afeta a comunicação e que continua a ser profundamente desconhecida pela maioria dos portugueses. Apesar de milhares de pessoas enfrentarem este desafio todos os anos, Portugal ainda está longe de oferecer uma resposta eficaz e inclusiva.
A afasia não afeta a inteligência, mas altera profundamente a forma como a pessoa interage com o mundo. Falar ao telefone, pedir um café ou simplesmente manter uma conversa torna-se um obstáculo diário. E, além das dificuldades práticas, surgem o isolamento, a frustração e a exclusão social.
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A causa mais comum da afasia é o acidente vascular cerebral (AVC), mas também pode surgir após um traumatismo craniano, tumor cerebral ou outras lesões neurológicas. Apesar de afetar milhares de pessoas em Portugal, a afasia permanece envolta num silêncio institucional e mediático que importa quebrar. Trazer este tema para a agenda pública é essencial para garantir inclusão, acesso a terapias e visibilidade para quem perdeu a capacidade de comunicar, mas não deixou de ter voz.
É por isso que a Associação IPAFASIA – Associação Portuguesa de Apoio à Pessoa com Afasia levanta uma questão fundamental: Portugal está preparado para apoiar estas pessoas?
“Mais do que uma condição médica, a afasia é uma barreira social. É urgente garantir respostas terapêuticas consistentes, mas também mudar mentalidades. As pessoas com afasia continuam a pensar, a sentir, a querer comunicar. Só precisam de tempo, compreensão e das ferramentas certas”, sensibiliza Paula Valente, diretora executiva da IPAFASIA.
Nos últimos anos, a Associação IPAFASIA tem vindo a realizar ações de capacitação dirigidas a centenas de profissionais de saúde, em contextos públicos e privados, com base no método de comunicação com maior evidência científica disponível atualmente. O objetivo? Tornar os serviços de saúde mais acessíveis e inclusivos para todas as pessoas com perturbações da comunicação, como a afasia.
“Muitas destas pessoas sentem-se frequentemente excluídas dos processos de decisão, incompreendidas e insatisfeitas com os cuidados prestados — não por falta de competência técnica, mas por barreiras de comunicação que podem e devem ser superadas. Por isso, estamos profundamente comprometidos em continuar a disseminar o método de comunicação com maior evidência científica disponível atualmente, promovendo uma prestação de cuidados verdadeiramente centrada na pessoa. Todas as instituições interessadas podem candidatar-se junto da associação para acolher esta formação, que envolve pessoas com afasia como formadoras, num modelo de workshops práticos e participativos”, esclarece Paula Valente.
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