Houve um tempo em que traficante de droga ou homicida tinham de esperar pelo julgamento, rápido e veloz, o jornalista acusado passava-lhe na frente. Sei do que falo porque passei por elas.
Hoje, 28 anos depois, a lei está alterada e a imprensa livre, mas não irresponsável como outras corporações, é tida como pilar da democracia.
Ora quando vemos, a 30 dias das eleições, o frenesim das averiguações preventivas, que me causam um arrepio solene, estarreço. A Justiça, não a Justiça da Soberania mas a justiça do funcionalismo, resolveu inclinar o campo. Atentas as coincidências, a intervenção é tão ou mais contumaz, conforme o reflexo das sondagens que, estranhamente, também têm cor, consoante quem as faz. Estamos por um fio.
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Sem darmos conta, a justiça de braço dado com a segurança, entrou no boletim de voto. Será uma perceção, até nisto somos incapazes de encontrar palavra nova. Moscambilha, por exemplo.
A economia e a segurança social crescem, os imigrantes tocam as nossas fábricas onde, com subsídio de turno e prémios, o salário líquido já dá para pagar um T2 e ainda deixa 500 paus para a mercearia. Mas o discurso de alguns dos políticos, que nunca falaram da gravidade do problema demográfico, é segurança e imigração. E é aqui que chega o terceiro pilar. A desconfiança e até a hostilidade em relação aos estrangeiros faz de nós uma Nação mesquinha e ingrata.
E em campanha eleitoral, uma das atuações mais esperadas é a da justiça. Escutamos anos a fio, ninguém se incomoda. Um cambalacho, deita abaixo uma maioria absoluta. E a extraordinária melhoria da justiça, consegue em 15 dias arquivar um processo. Não é sectarismo, é eficácia.
Regressaram a moral e os bons costumes, injetados no calendário político que até eu, que gosto de ordem e ruas limpas, me sobressalto.
A contumácia, que já tínhamos visto em 2002 e em 2023, volta às lides, e eu, se olho enxuto anota a coincidência das intervenções, despudoradamente enviesadas, no despacho. Arquive-se, investigue-se. Estamos bem. As suspeitas é que nunca se concretizam.
Em plena crise mundial, com o iníquos a tentarem criar uma nova ordem, mostra como a estabilidade das instituições importa.
Sempre notei que grande parte dos políticos fica rico quando sai da política, mas são poucos os ricos que nela entram.
Portanto corrupção, rendimento ilícito e tráfico de influências é para abater. Mas ele há oportunidades que nem um caçador de perdizes topava. Importa é desestabilizar.
Acontece, reconhecida que está tradição e modernidade, uma mão cheia de décadas a explorar incautos.
Neste mesmo país, que vai a votos, também ninguém fala dos 70% do território em desertificação aceleradíssima. Nos programas eleitorais não há uma linha, com dinheiro e calendário. Uns prometem 730 milhões em medidas fiscais, 270 milhões para apoios sociais e 744 milhões para habitação e saúde.
Outros afiançam 2 mil milhões para descer o IRS, 1.260 milhões para baixar o IRC e 500 milhões para uma retrocesso no IVA.
Com menos receita e mais despesa, andam a promover milagres. E nós, cá vamos tentando resistir.
Coimbra terá um sistema intermunicipal de transportes que liga os 19 concelhos da região de Coimbra, com 240 autocarros para uma rede com 6,5 milhões de quilómetros anuais.
Um bilhete e vamos da praia à serra. São 6,7 milhões de euros anuais por um período de cinco anos, com possibilidade de prorrogação até dois anos. Aqui, na minha aldeia, com menos autocarros e mais dinheiro, o serviço mostra-se, mas não funciona.
Tudo, em Coimbra, com um único bilhete. Só com um problema. O Operador. A sociedade que ganhou o concurso, os acionistas melhor dizendo, não cumpre os mínimos da decência. O capital é israelita e, também aí, mostramos como temos dois pesos e duas medidas. Não me apanharão nos vossos autocarros.
A decência, ruim palavra, afastou-se e nem esta Europa, 500 milhões que vivemos na região mais progressista do mundo, não ligam patavina a isso.
Somos paroquianos, não somos diocesanos. Eis o país das corporações e que, desalmadamente, não desmantelámos.
Preparem-se, que o futuro pode ser pior. Ainda temos alguns anéis nos dedos para vender. E amigos para empregar. Que isto é tudo às claras e não há averiguação preventiva que lhes valha. Interesses privados e cordeiros no altar.
Um situacionismo que bem merecia uma averiguação preventiva. Não a tendo, sirvamos o remédio do costume.
No smoke jamba today!
OPINIÃO | AMADEU ARAÚJO – JORNALISTA
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